A Estônia entrou recentemente para a história como o primeiro país do mundo a realizar uma eleição nacional via internet. Cerca de cerca de 30 mil dos 940 mil eleitores registrados selecionaram na web seus candidatos para as eleições parlamentares -- os votos on-line, registrados entre os dias 26 e 28 de fevereiro, foram computados no pleito deste domingo (4). O atual primeiro-ministro, Andrus Ansip, do Partido Reformista, venceu as eleições parlamentares e seguirá no governo do país. [via G1 e DW]
Muito interessante. Trata-se de um ótimo exemplo de uso da internet à serviço do Estado, do que é público. Pelo que pesquisei, a economia da Estônia ainda sofre os efeitos de ter pertencido à União Soviética por mais de 40 anos (de 1944 à 1991). Seu PIB per capta, por exemplo, é quase a metade da média da União Européia -- bloco ao qual o país báltico ingressou em 2004. Entretanto, desde o fim da regime soviético o governo tem apoiado o desenvolvimento do país através de altos investimentos em tecnologia da informação.
Só para citar um exemplo de sucesso, o serviço de VoIP (telefonia pela internet) mais utilizado no mundo, o Skype, surgiu na Estônia e tem lá a base de toda sua operação européia. Além disso, há computadores públicos por todo o país, com acesso gratuito à internet para a população. Estes terminais possuem um leitor de carteiras de identidade, que na Estônia possuem um chip eletrônico. No projeto i-voting, o cidadão estoniano coloca sua identidade no leitor, acessa o site das eleições, digita duas senhas e vota. O governo, que oferece diversos serviços públicos da mesma forma, incentiva o uso destes leitores em computadores domésticos -- um leitor custa apenas 8 euros.
Muito se especulou quanto à questão da segurança em torno das eleições on-line da Estônia. O perigo mais alardeado foi quanto à possibilidade de hackers invadindo o sistema i-voting. Também se criticou a ausência de fiscais no momento do voto, o que poderia abrir espaço para coerção ou colocar em risco o direito ao voto secreto.
Vale lembrar que não existe modelo de eleição completamente confiável. O uso de cédulas de papel também não é seguro (até hoje se coloca sob suspeita a apuração das eleições americanas entre Bush e Al Gore), e mesmo as nossas urnas eletrônicas - que garantem 100% de apuração em poucas horas - falharam no Equador. Assim, o sistem i-voting é apenas mais um modelo e, como tal, também passível de críticas. Todavia, o pleito na Estônia foi acompanhado pela imprensa internacional e declarado como bem-sucedido. Palmas para a ciberdemocracia!
Para finalizar, levanto algumas questões. Como seriam as eleições num país de alto nível educacional, onde todos os cidadãos com direito a voto tivessem acesso à um sistema como o i-voting? Seria possível existir uma democracia onde o todo cidadão, através da internet, vota diretamente a pauta do seu Parlamento, Congresso ou o que fosse -- sem o intermédio de deputados, senadores e partidos políticos?