A maioria das pessoas considera
Godzilla, de 1998, um desastre tão grande quanto o réptil que estrela a película. E confesso, sou um dos que achou extremamente desnecessária a realização de um filme solo pro Tiranossauro Rex de
Parque dos Dinossauros, do Spielberg. Mas eis que em uma longínqua aula de artes, lá pelos idos de 1998, um aparelho chamado "rádio" começa a tocar uma canção e um rapaz chamado "André" é tomado de assalto por ela. Meu então colega
Guto prontamente identifica a dita-cuja como sendo a
versão do Wallflowers pra
Heroes, do
David Bowie. Que, por acaso, foi feita para a trilha sonora de
Godzilla. Que, se por um lado não amplificou a minha paixão por cinema, por outro deu o
play no que viria a ser a minha paixão por música.
A trilha sonora de
Godzilla foi o segundo disco que comprei na vida, sendo precedido apenas por um do Jorge Ben Jor que tinha
aquela música do Tim Maia. Lembro que além de
Heroes o disco também contava com uma canção famosinha (leia-se "música com videoclipe") do
Jamiroquai, mas eu não dei muita bola pra ela. Dançante demais. Eu estava atrás de algo como o riffzinho de guitarra no refrão da canção dos
Wallflowers, que conseguia preencher uma sala inteira com melodia, que mudava drasticamente a canção sem realmete mudá-la. E encontrei nos à época corajosos versos de
Untitled, do
siverchair ("dreams are bad / when all they do is leave the truth behind"), ou na hipnótica e cativante
A320, do
Foo Fighters. Duas bandas que assumiram a posição de titular do meu time e não sairam mais, aliás.
Algo havia começado dentro de mim e não poderia mais ser parado, como um trem desgovernado gritando pelos trilhos ou o efeito dominó desencadeado pelo travamento de um simples programa do computador, obrigando a reinicialização do mesmo. Uma audição mais cuidadosa do disco me revelou novos sentimentos: a vontade de sair por aí dando VOADORA NAS PESSOAS enquanto a poderosa
Walk The Sky, do
Fuel, rola ao fundo; a lacrimejante descida de notas no dedilhado distorcido de
Macy Day Parade, do
Michael Penn; a possibilidade do coração bater no ritmo de um piano com a emocionante
Air, do
Ben Folds Five; e a vontade de conhecer um bar da Chicago dos anos 50 com
Undercover, do
Joey DeLuxe. Havia até mesmo uma
Kashmir recauchutada na
Come With Me, onde
Puff Daddy pedia ajuda a
Jimmy Page, e que, peço desculpas pela ignorância temporária, na época soava melhor do que a original.
Outro momento de imensa adrenalina ocorreu do primeiro ao último acorde de
Brain Stew, do
Green Day, que parecia rugir o suficiente mesmo se não houvesse o rugido do
Godzilla na mixagem. Na verdade, essa foi a primeira canção do disco que me chamou a atenção. Mas era conveniente deixá-la por último no texto para fazer um link com o próximo post,
Crônicas da Discoteca II ou
Como um Garoto Magrela e Branquelo Começou a Ouvir o que Ele Imaginava ser Punk Rock.