uno, dos, tres...
André
Bruno
Kleiton
Laura
Leandro
Rafael
Thiago
14

hello, hello!
Cão Uivador
Dilbert blog
Forasteiro RS
GPF
Improfícuo
La'Máfia Trumpi
Limão com sal
Malvados
Moldura Digital
Notórios Infames
PBF archive
Wonderpree

hola!
Como trocar a resistência de um chuveiro
Jogando com a realidade
Very Rich People
Feliz Segunda-Feira
Dormir, bocejar, se entediar
De Tarantino, peixes e temas profundos
Feliz Segunda-Feira
Comendo ganância no café da manhã
Deslumbramentose
Feliz Terça-Feira com cara de Segunda

Swinging to the music
A 14 Km/seg
Expressão Digital
Peliculosidade
Suando a 14
Tá tudo interligado
Cataclisma14 no Pan
Libertadores 2007

dónde estás?


all this can be yours...





RSS
Menos frases de efeito, mais ideias
André - 09 outubro 2010 - 22:22
Tropa de Elite 2
5/5

Direção: José Padilha
Roteiro: José Padilha e Bráulio Montovani

Elenco
Wagner Moura (Capitão Nascimento)
Irandhir Santos (Fraga)
André Ramiro (Mathias)
Sandro Rocha (Russo)
Milhem Cortaz (Capitão Fábio)

Depois de tocar o terror em viciados, traficantes e pessoas que ficaram meses ouvindo os outros repetirem à exaustão os bordões de Tropa de Elite, o capitão Nascimento agora voltou com um posto na Secretaria de Segurança Pública. Mas, apesar do visual engomadinho, o capitão vai continuar batendo mais do que zagueiro de interior - desta vez a complexa trama envolve milícias, políticos corruptos, eleições, compra de votos e muitas outras TRAQUINAGENS.

Tropa de Elite 2 faz o que poucas continuações conseguem fazer: amplia a discussão proposta no primeiro filme. Agora a balbúrdia do tráfico e a reflexão entre a necessidade da violência (exposta de forma tão direta na cena da sala de aula, em Tropa de Elite) é elevada à RENATOGAÚCHOPOTÊNCIA. E se o objetivo do diretor José Padilha não é mais fazer o espectador confrontar seus próprios sentimentos ao encarar a brutalidade da polícia como heroísmo (embora essa lição não tenha ficado clara, uma vez que toda a sala de cinema riu quando o capitão Mathias disse "bota a cabeça dele no saco"), continua a inteligência do roteiro em não abordar nada de forma superficial ou maniqueísta, construindo um retrato cru das relações entre os tópicos trabalhados (e é emblemática a cena onde as pessoas se levantam e aplaudem o capitão Nascimento após ele ter feito uma carnificina, o que faz com que os políticos mudem rapidamente de ideia a seu respeito).

Resumindo, um filme que faz o cara parar pra refletir.

Certamente derivado das expressões "sucesso" e "vitória", o roteiro deixa um pouco de lado as frases de efeito e se preocupa mais em expandir suas ideias. Dessa forma, por exemplo, não apenas imagina um Rio de Janeiro despido do tráfico, como pensa nas consequências que isso traria. Aliás, as intrincadas ligações entre os diversos setores jamais soam confusas, e isso faz com que o espectador, ao reconhecer tais instituições e os conceitos aplicados a elas, saia do cinema com a cabeça ZUNINDO de ideias. E a representação de tudo isso está na figura do capitão Nascimento, que, na Secretaria de Segurança Pública, percebe que o BOPE também é peça do sistema corrupto que tenta eliminar. Daí, totalmente tomado pela frustração, o capitão passa a rever suas certezas - e esse devastador arco dramático percorrido pelo protagonista culmina em um clímax apoteótico, que lança no ar frases como "A PM do Rio de Janeiro tem que acabar" (e o fato de acompanharmos essa mudança no capitão é o maior trunfo do filme, pois carrega o espectador junto com ele, faz o público passar por tudo que ele passou, e o choque entre o quase fascista caçador de corinthianos no primeiro filme e esta figura cansada é uma das coisas mais desnorteadoramente belas que o cinema nacional já produziu). E tudo isso é feito com diálogos bem elaborados, sem se render ao lugar comum e se adaptando à realidade e ponto de vista de cada personagem (quando o ativista de direitos humanos entra em um presídio sem colete à prova de balas, por exemplo, o capitão nascimento informa ao Mathias que "o Che Guevara está entrando sem colete").

José Padilha aposta com tudo no mesmo estilo documental do primeiro filme, com a câmera na mão, tensa e sacolejante (mas de forma que o espectador consiga ver o que está acontecendo, e não naquele tremelique sem fim tão característico dos irmãos Scott) e uma fotografia dessaturada, remetendo à crueza daquela realidade. Jogando pra Coréia do Norte aquela história de que só americanos sabem fazer filmes de ação, o diretor constrói tiroteios desenfreados extremamente bem coreografados, além de saber utilizar as locações de forma épica (fiquei de pé e gritei "Museu do Louvre já!" naqueles planos aéreos quando o BOPE está invadindo as favelas). Tropa de Elite 2 ainda se beneficia de um excelente design de som e uma direção de arte certeira, que se preocupa com os mínimos detalhes (e é de chorar no cantinho o contraste entre a casa do capitão Nascimento, econômica e sempre escura, e a do deputado Fraga, bem iluminada e com mais vida).

Mais uma vez assumindo a BOINA número 10, Wagner Moura faz um trabalho minucioso como Capitão Nascimento: se por um lado sua entonação dá a entender que é o mesmo aniquilador do primeiro filme, por outro sua postura arqueada e olhos cansados ilustram bem como o sujeito já está na capa da gaita. Já Irandhir Santos tem carisma suficiente pra puxar o espectador pro lado do deputado Fraga, enquanto André Ramiro cria um Mathias que é pura intensidade e Sandro Rocha transforma Russo em um inimigo sempre perigoso. Na real o elenco todo está mais do que afiado, de tal forma que a seleção de atores que compõe Tropa de Elite 2 deve ter subido até a segunda colocação no ranking de seleções da FIFA. E isso só porque eles não têm o Fabregas.

Intenso e pertinente até os RINS, Tropa de Elite 2 é um filme que evita generalizações, evita respostas fáceis, evita clichês e joga na cara do espectador sem pudor nenhum o ciclo praticamente imutável de um sistema corrupto e oportunista. Uma película abrangente, que ainda assim consegue fugir do superficial. A segunda mão de tinta em uma franquia que é um retrato assustadoramente fiel do Brasil.

Marcadores:

Comentários: 3