Dizem que Deus trabalhou e, no sétimo dia, botou os pés em cima de uma almofada e ficou assistindo jogos do Campeonato Italiano. Esse dia, claro, é o domingo, hoje mais famoso pelos impropérios que corajosamente recebe do que por ser o dia do descanso, ou o dia dos jogos do Campeonato Italiano. Afinal, domingo é o pior dia da semana. Não possui a intensidade do sábado, e serve apenas como espera para a fatídica e inevitável segunda feira. Aquele período das oito às dez da noite, então, encaixaria-se em um dos círculos infernais descritos por Dante: é quando o fim de semana já acabou, não há mais tempo para nada, mas algumas horas esticam-se à frente como um doloroso limbo. Uma pessoa pode sentir sua alma desfalecer nesse intervalo de tempo.
Entretanto, talvez a foice da injustiça esteja atentando contra esse dia. Muitos vêem o domingo como a antecipação da segunda-feira, mas esse é apenas um dos lados de raciocínio. Pensem a respeito: no sábado, todos vocês navegam despreocupadamente pelos mares da diversão, confrontam seus limites etílicos, constroem feitos de indiscutível grandiosidade (e outros de irredimível vergonha. Mas faz parte). E o que permite que as pessoas façam isso? Exatamente, o domingo.
O sábado só é o que é porque cada um de nós SABE que haverá um dia de recuperação. Sem o domingo, não haveria sábado, não haveria final de semana, não haveria todas as coisas pelas quais prezamos. É nesse malfalado dia que toda a base da nossa diversão descompromissada se apóia. Dele depende toda a sanidade da população ocidental.
Mas esse reconhecimento não existe. E isso só aumenta a grandiosidade do domingo. Ele está disposto a permitir o sábado, mesmo sendo alvo de toda sorte de xingamentos, teorias e discursos que o rebaixam. Faz de tudo por nós, sem pedir nem mesmo simpatia em troca. Um sacrifício solitário, que morre entalado na garganta. Por isso, por esse amor incondicional à diversão dos fins de semana, o domingo não é apenas um herói: ele é algo muito, muito maior.
- O que você quer que eu faça? - Que aguente. As pessoas vão odiá-lo por isso, mas esse é o papel do Batman. Ele pode ser o pária. Ele pode fazer a escolha que ninguém mais faria: a escolha certa. |