Vicky Cristina Barcelona4/5
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco:
Scarlett Johansson (Cristina)
Rebecca Hall (Vicky)
Javier Bardem (Juan Antonio)
Penelope Cruz (Maria Elena)
Vicky e Cristina são duas americanas que viajam para passar o verão em Barcelona. Então surge um pintor que seduz as duas, depois uma pintora, aí a coisa toda vira uma bagunça e ninguém é mais de ninguém.
Woody Allen é um cara esperto: pegou uma história sobre amor idealizado e a levou para a sedutora cidade de Barcelona, com sua arquitetura complexa, sua intensidade e seu "time da década" que nem mesmo conseguiu vencer o Sport Club. Mas enfim. Desde o início, descobrimos no filme quem são os racionais (Vicky e seu noivo/marido Doug), os passionais (Javier e Maria Elena) e os nãosabemoquequeremdavidaais (Cristina). O que o diretor/roteirista faz, então, é martelar esses clichês pra ver até onde eles duram.
Vamos pegar Cristina, por exemplo. Ela é uma aspirante a qualquer coisa, que não sabe o que quer mas sabe o que não quer, e encontra em Javier uma oportunidade da vida "liberal" à qual a loirinha (acha que) deseja - afinal, o cara é pintor, espanhol, passional, intenso e já ganhou um Oscar. Mas uma vez que isso se concretiza, o que sobra da fantasia? Seria essa paixão algo temporário ou, pior, destrutivo? O quanto desse desejo é real e o quanto é apenas escapismo da cultura na qual ela vive? É inevitável identificar Cristina como uma garotinha que sonha com a vida intelectual do velho continente e vai atrás de uma relação "desprendida das regras". Só que em determinado momento, as "regras" começam a pesar. Ou seja, o novo e intenso já não é mais tão atraente - seria o conto do príncipe encantado mais interessante?
O mesmo tipo de questionamento ocorre com as outras personagens, que acabam se questionando sobre o amor ideal que buscam e se ele realmente existe - com exceção dos homens que, seguros de seus papéis, praticamente ignoram a putaria ao redor (ou a incentivam, no caso de Javier). É no confronto entre a intensidade de Cristina e a praticidade de Vicky que a história do filme se desenrola, pois ambas descobrem que não são quem imaginavem ser. Tudo bem, Javier representa o estereótipo daquele cara sedutor, artista, que é apaixonado pela vida, e é esse ponto que atrai as duas mulheres. Mas uma vez que isso se torna comum, ainda há essa paixão? Talvez por isso a atração que Cristina sente pelo pintor vá diminuindo (afinal, ela tem uma relação propriamente dita com o sujeito) e a de Vicky vá crescendo (após uma noite de sexo no parque, tudo que sobrou pra ela foi a imaginação e um sujeito que veste a camisa pra dentro das calças).
Woody Allen é um cara esperto: pegou atrizes bonitas, colocou elas em uma Barcelona cheia de cores quentes e ensolarada, romântica, e criou uma história repleta paixão. O que poderia passar por pura sensualidade, na verdade explora os desejos mais íntimos das pessoas (segurança, estabilidade, loucura, admiração, etc). Talvez por isso o diretor tenha feito parecer que ao longo do filme se passou um ano, embora tenham sido só dois meses: é como se aquilo tivesse sido tão explosivo que cada dia valia por semanas. Antes da inevitável e necessária volta à "normalidade".