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Casualidades - Parte 4
André - 12 janeiro 2008 - 20:47
Se você quer que algo seja feito direito, não peça pros outros, faça você mesmo e mande aqueles incompetentes pra puta que pariu. Como é que um mercado me vende um cartão de celular sem nenhum crédito? Não é exatamente como se eu tivesse pedido algo muito complexo e de difícil execução. Apenas um pedaço de plástico com ligações telefônicas dentro. Isso é demais pra eles?

O pior é ter que sair nesse sol, bem no horário mais movimentado, só pra devolver essa praga. Essa gente não sabe caminhar, olha só. Parece que não querem chegar nunca em lugar nenhum. Sai da frente, moça. Sempre tem um pra tornar tudo mais difícil.

Não é que eu não goste de pessoas, mas bem, elas têm a irritante mania de arruinar tudo. Casamentos, namoros, empregos, idéias, projetos... Cedo ou tarde vem alguém e arranja um jeito de mandar a coisa toda por água abaixo. Nem sempre com má intenção, eu sei, mas isso não muda nada. Parece que toda vez que alguém vai ser escalado para jogar no planeta Terra, Deus dá um tapinha nas costas e sussurra no ouvido do sujeito “vai lá e estraga”. Daí a expressão “errar é humano”.

Meu casamento é a prova perfeita disso. Aliás, ex-casamento. Não contente com tudo correndo perfeitamente bem, minha mulher – aliás, ex-mulher – resolveu complicar as coisas se atirando nos braços de um colega de trabalho. Claro que ela se arrependeu, pediu desculpas, falou que foi um acidente, mas de alguma forma isso não é tão simples quanto, digamos, derramar cerveja no sofá. Que motivos ela teria para fazer isso? Nenhum, de acordo com a própria. Só o velho papo de “eu precisava me encontrar”, mas o que ela acabou achando foi um contador de 40 anos, casado, com dois filhos e, o pior de tudo, que escuta Legião Urbana.

Por isso as pessoas sempre me chamam de reclamão e pessimista, mas eu apenas aplico realidade aos acontecimentos. Que nem agora: antes mesmo de sair de casa eu sabia que encontraria muito movimento na rua, tornando a caminhada até o mercado ainda mais lenta e irritante. Alguém poderia dizer “de repente você dá sorte e hoje tem menos trânsito”, mas eu sabia que isso não ia acontecer simplesmente porque não ia acontecer. É assim que as coisas são.

Foi o que eu pensei antes de xingar a atendente do mercado, e a mãe dela, e a família dela, e o namorado que ela não tem e nunca vai arranjar. E falei exatamente isso: eu sabia que ia dar errado, porque aquela loja é um lixo, e ali ninguém faz nada direito. E quando fui puxar o cartão e a nota pra mostrar, percebi que eles não estavam ali – provavelmente caíram quando eu esbarrei naquela menina distraída no meio da rua.

Quando eu falo que as pessoas nasceram para estragar tudo, é com embasamento: eu sou uma delas.

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