É engraçado como a produção de conhecimento está restrita ao meio acadêmico - tanto que, nas normas da ABNT, sempre se pressupõe que haja uma instituição de ensino, como se o indivíduo, sozinho, não pudesse produzir conhecimento. Ela também precisa ser apresentada numa determinada forma, para que seja considerada válida. O que isso tem a ver com internet?, vocês perguntam. A relação fica mais clara quando lembramos daquela campanha do Estadão.
O conhecimento precisa ser legitimado de alguma forma. A monografia, por exemplo, precisa ter um embasamento teórico, precisa ter um embasamento metodológico, precisa seguir certas normas formais, para que possa ser considerada um trabalho científico. Fonte X, margem Y, paginação padrão, referências bibliográficas. O Foucault fala disso no "Ordem do Discurso", que eu acho um baita livro e recomendo.
Ele lembra que a forma não valida automaticamente o conteúdo, o que é uma afirmação interessante de se ter presente em épocas de blogues e crescimento da produção de conhecimento na internet. É possível escrever baboseiras normatizadas, em formato acadêmico, bem como é possível que algum blogueiro-cientista possa revelar ao mundo uma grande descoberta e ser menosprezado por ser um blogueiro e estar fora do meio acadêmico.
Com certeza, a partir da atual profusão de informação, se faz necessária a existência de um filtro. E a definição desse filtro é que deve ser cuidadosa, para que não os apeguemos a certos tipos de informação/conhecimento legitimados somente pela forma. A melhor legitimação se dá pelo conteúdo.Marcadores: Expressão Digital |