Jornal Nacional. Nas últimas semanas, todo dia tem pelo menos uma matéria sobre o caos aéreo no Brasil. Controladores de vôo em operação padrão, atraso nas partidas e nas chegadas, atendentes de companhias aéreas sendo humilhados por um grupo de passageiros enfurecidos.
Mas mesmo com todo esse barulho, eu tenho me perguntado: será esse caos tão caótico assim? Acho que não.
Em primeiro lugar, uma opinião que eu compartilho com o Cardia: quem anda de avião no Brasil, hoje, é uma minoria. Uma nova classe média que, com um pouco de renda a mais, se acha dona do mundo emquanto olha a cidade lá embaixo da janelinha do avião. Só que não podemos esquecer do caos na saúde, na educação, na desigualdade de renda. Dos problemas brasileiros, o caos aéreo é o menor. Mas o circo midiático joga seus holofotes sobre essa situação como se o mundo fosse acabar no próximo atraso.
Tantos holofotes já deixam todo mundo preparado para o dito "caos". Junte-se a isso o prazer imensurável do povo brasileiro em reclamar, teremos um resultado realmente caótico. O vôo atrasou 10 minutos? Eu grito com o atendente do guichê. Atrasou 30 minutos? Eu deito no saguão do aeroporto com cara de cansado, rezando pra que uma câmera me mostre e eu apareça no JN. O atendente me olhou estranho? Eu vou pro PROCON, afinal de contas sou um novo-rico e mereço mais respeito.
As pessoas já vão pro aeroporto esperando o caos, e é esse tipo de expectativa que alimenta cada vez mais a situação. Com menos holofotes e câmeras nos aeroportos, ia ter menos gente estressada e menos caos, e as pessoas voltariam a esperar tranquilas nos saguões, lendo ou fazendo palavras cruzadas, e não procurando enlouquecidamente o cinegrafista da Globo para expor sua insatisfação. |