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A triste realidade
André - 12 março 2007 - 19:19
<O Labirinto do Fauno (El Labirinto del Fauno)
5/5

Direção: Guilhermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro

Elenco:
Ivana Baquero (Ofelia)
Doug Jones (Fauno / Homem pálido)
Sergi López (Capitão Vidal)
Ariadna Gil (Carmen)
Maribel Verdú (Mercedes)
Álex Angulo (Médico)

Desolador.

No final da Guerra Civil espanhola (1944, pra ser mais exato), uma garota e sua mãe se mudam para a casa de um capitão do regime fascista, respectivamente padrasto e marido delas. No jardim da mansão, a guria encontra um labirinto (o do título, óbvio) onde vive um fauno (o do título, óbvio), que dá a ela três provas para que a menina prove seu valor e assuma seu papel como princesa em um mundo de fantasia.

O filme é visualmente deslumbrante. Tanto a recriação de época do mundo "real" quanto a criatividade do mundo fantasioso são de tirar o fôlego. No entanto, longe de um conto de fadas, a nova obra do diretor mexicano Guillermo del Toro é permeada com um toque de melancolia constante.

Não é segredo nenhum que aquele mundo fantástico é a opção que Ofélia tem de escapar da dura vida que leva. E é incrível como mesmo as mais ameaçadoras criaturas não a assustam tanto quanto a crueldade de seu padrasto, que não mede esforços para arrancar informações de guerrilheiros ou manter as coisas em ordem (e a boa interpretação de Sergi López faz com que se torne um homem odioso sem parecer uma caricatura). Por isso a garota se deixa levar pelas orientações do fauno, buscando um contraponto à sua rotina.

Mas esses mundos não podem coexistir: aos poucos, a realidade vai se sobrepondo à fantasia, e conforme a história se desenvolve o filme vai ficando mais e mais sombrio. Não há espaço para alegria aqui, pois até mesmo o escapismo pode aniquilar na mesma medida que incentiva, e o que Ofélia quer é justamente fugir pra outro lugar. Quando exatamente deixa de ser um sonho e torna-se uma ilusão? É esse dilema que dá o tom. Nunca sabemos ao longo da projeção se há realmente como fugir daquela existência.

A película flui de forma incrivelmente bela e melancólica, deixando para os últimos minutos seu gesto mais cruel. Não uma reviravolta no estilo "O Sexto Sentido", mas um final dúbio, onde ambas as possibilidades são tristes: uma ilusão trágica ou a constatação de que, atualmente, nossas vidas e a fábula (ou contos de fadas, se preferirem) são algo tão distantes que não podem existir dentro de uma mesma pessoa - existe um abismo instransponível entre as duas. Somos humanos, e estamos presos a isso.

Sonhar não custa nada. Será?
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