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Repórter14
Kleiton - 06 fevereiro 2007 - 21:45
A senhora Jaeyaena Beurraheng é analfabeta e faz parte de uma minoria
Um exílio forçado com direito a mendigagem, recolhimento e internação

Erra o ônibus, volta pra casa 25 anos depois
A odisséia de uma tailandesa


BANGKOK - Errar de ônibus pode sair caro. E forçar alguém a um exílio de 25 longos anos, na mendigagem e até na prisão. Jaeyaena Beurraheng, hoje com 76 anos, 25 anos atrás foi encontrar uns amigos na Malásia. Jaeyaena faz parte de uma minoria muçulmana do extremo sul do país que não fala tailandês. Se despediu de todos, subiu no ônibus que, mesmo sem saber ler por ser analfabeta, imaginava que a levaria pra casa, na província de Narathiwat. Mas o destino foi inclemente, e a senhora, na época com 50 anos, foi parar em Bangkok, 1200 km ao norte da sua cidade.

Consciente do erro, subiu em outro ônibus, de novo sem poder ler o destino nem pedir informações, porque ninguém no norte da Tailândia entende a sua língua, o malaio. E novamente foi levada para mais longe da sua casa, em Chiang Mai: tinha percorrido mais 700 km para o norte. Sempre mais pro norte, sem poder comunicar-se com ninguém nem mandar uma carta ou nada semelhante para casa, Jaeyaena se resignou.

Por cinco anos viveu como uma mendiga, pedindo comida e dormindo a céu aberto. Como se nãp fosse suficiente, foi recolhida e enviada para um centro que acolhia sem-tetos. Isso em 1987. Nesse centro, acharam que ela era muda. Depois de 20 anos, a luz no fim do túnel. Um certo dia, sem saber se era realidade ou imaginação, Jaeyaena teve a impressão de ter ouvido alguém falando na sua língua. Tinha razão: eram três estudantes muçulmanos de Narathiwat, que trabalhavam no local.

Ela chora, ri, fica fascinada, e corre até eles falando frases soltas e quase sem sentido, devido aos 25 anos sem falar o próprio idioma. Os estudantes a ouvem e explicam tudo ao responsável pelo centro. Finalmente, depois de um quarto de século, a mulher volta para casa, onde pode novamente encontrar os oito filhos, abraçando também os vários netos que haviam nascido nesse meio-tempo.

"Só no momento em que os três estudantes a encontraram e ela começou a falar, descobrimos que não era muda", dise Jintana Satjang, diretora do centro. O azar de Jaeyaena, que resultou nessa odisséia absurda, foi ter nascido numa das três regiões ao sul do país, anexas à Tailândia há um século, que mantiveram suas peculiaridades culturais - 8% dos habitantes dessas regiões é de origem muçulmana, e fala o malaio como língua mãe. E raramente pega um ônibus pra ir ao norte do país.

6 de fevereiro de 2007 - Traduzido de: la Repubblica.it
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