Eu preciso sair, agora. Porque preciso pegar um avião amanhã de manhã. Porque preciso descer em São Paulo e circular entre os metrôs e trens e ônibus e achar o meu caminho por onde as ruas não têm nome. Porque até sábado eu preciso estar pronto, preciso ter à mão tudo que eu não posso deixar pra trás. Porque no sábado eu embarco em uma espécie de nave espacial, uma que não sai do chão mas voa mais alto que todas as outras, e preciso estar preparado para o impacto, para a decolagem, para a pressurização e despressurização. Preciso descobrir como é viver onde não há nenhuma linha no horizonte, pois por um momento tudo é um só e nada é impossível ou longe demais.
Preciso sair porque preciso ver com meus olhos o palco descomunal e a multidão ensandecida, ouvir as letras sendo cantadas em milhares de tons diferentes, por milhares de vozes diferentes, em uníssono, descompassadas, acompanhando mais com o coração do que com o talento. Então eu preciso sair, agora. Porque no próximo sábado, quatro caras, algumas canções e dezenas de milhares de pessoas cantando junto é tudo que eu preciso. |