Quando penso em carnaval, as duas primeiras coisas que me vêm à cabeça são "putaria" e "programação ainda mais entediante na TV aberta". E acredito que não sou o único. O carnaval é tipo um passe livre de convenções sociais, um mundo alternativo onde podemos fazer um monte de coisas que normalmente seriam condenadas e justificá-las com o tradicional "ah, é carnaval". Basicamente, o carnaval muda aquela história de "o que os olhos não vêem o coração não sente" pra "o que os outros não julgam a consciência não sente".
Entretanto, o que inicialmente parece um rompante de ID que dura 4 dias e é aprovado por todos, na verdade é um espião jogando no time do puritanismo. Porque vejam bem, esse espaço de tempo que se apropria da ideia de libertinagem só existe se no resto do ano for exatamente o contrário, se houver uma massa opressiva de convenções, comportamento puritano e julgamentos da qual fugir. Dentro desse contexto, então, o carnaval surge como um mimo que nós recebemos e consideramos algo especial, o que nos distrai do fato de que somos julgados e controlados e condenados durante todo o resto do tempo. É tipo a empresa que faz os funcionários trabalharem até a meia-noite, mas avisa que vai pagar a pizza na janta apenas para apaziguar a situação e fingir que não está explorando a galera.
A prova definitiva disso é que a principal característica do carnaval é o uso de fantasias. Para fazer toda a balbúrdia que queremos fazer, precisamos nos fantasiar de algo que não somos no dia a dia. Porque no resto do ano, se tu faz algo um pouco mais intenso, um pouco mais fora do esperado, as pessoas olham pra ti com certo desprezo e dizem coisas como "o que tu tá pensando? Não estamos no carnaval". |