Fui tirar sangue, hoje. Leiam em voz alta: "tirar sangue". Ou seja, eu entrei em um estabelecimento e paguei para que alguém, com um objeto afiado, rasgasse a minha pele, furasse a veia e retirasse, de lá, dois tubinhos do precioso líquido da vida. Foi como se eu entrasse em um covil de vampiros (os de verdade, não aqueles estudantes de Direito da série Crepúsculo) com os pulsos cortados e creme de cereja por cima deles, gritando "quero ver quem aqui é homem suficiente pra sugar meu sangue, bando de sãopaulinos".
E ainda por cima, quando o cara chega no lugar, ele tem a impressão de estar em um recinto decente - é tudo milimetricamente organizado, tranquilamente decorado, repugnantemente falso. Tem até um filtro de água! Tipo, "ok, nós vamos fazer você sangrar, mas ei, tome um copo de água por conta da casa". Além do mais, há um excesso de BRANQUICE assustador em todo canto. O chão é tão limpo que parece constituído por sorrisos de comerciais de creme dental. Muito estranho. Quando a fachada é organizada demais, é porque lá dentro coisas sujas acontecem.
Pra completar a cena, o cara que veio coletar sangue era simpático. Ele entendeu meu receio de agulhas. Raios, o sujeito até fez uma cara compreensiva quando eu perguntei se não podiam esperar até eu entrar em uma briga de bar e me machucar, para então coletar o sangue. Mas não: tal qual as atualizações do Windows, que ficam insistindo em reiniciar o computador depois, a carnificina precisa ser feita da forma mais dolorosa possível.
Não restou alternativa a não ser fechar os olhos na hora certa. E a tática adiantou, pois não doeu. Aliás, nem o algodãozinho que fica no braço depois incomodou. O que, claro, é bastante suspeito, mas ainda não descobri exatamente qual o plano deles. A única coisa ruim mesmo foi que ninguém me ofereceu um chocolate depois da coleta, como faziam quando eu era criança. Paciência. |