Quando desliguei o rádio, o comentarista resumiu numa frase o jogo de hoje, no qual o Grêmio venceu o São Luiz por 2x0: "o Grêmio joga comum demais".
Quando o jogo insistia em ficar no 0x0, num primeiro tempo mais do que sonolento, ficava muito claro (ou transparente se pode dizer) que esse futebol feijão com arroz, no esquema 3-5-2, não engana e nem surpreende ninguém. Se duvidar, a minha mãe, que é colorada e não assiste futebol, conhece o esquema do Grêmio.
Reiniciado o jogo, o Grêmio acelerou a passada e num abafa conseguiu fazer um gol. O jogo seguiu igualzinho, o coitado do time de Ijuí mal conseguia passar do meio de campo, empenhado em manter o placar baixo, cada jogador posicionado no mesmo lugar (cada um no seu quadrado), como pinos, estacas, atrapalhando a passagem dos jogadores do meu time. Havia um atacante de corria de um lado pro outro, por muitos minutos, e nem tocava na bola, pois a sua volta o técnico gremista insistia em manter 3 zagueiros que ficavam ali num carteado de canastra, revezando a marcação do coitado do atacante de Ijuí que nem sabia o que fazer ali.
A torcida vendo aquela coisa imutável, insossa, e qualquer outro termo que lembre "falta de vontade de mudar, de reagir", começou a xingar o técnico, pedindo, gritando, sussurando quase aos prantos, por alguém que fizesse alguma coisa mudar, alguma jogada aparecer, alguma tabela surpreender o time adversário.. tudo em vão.
O São Luiz, que veio de Ijuí num onibus modesto, sem torcedores, começou a ver que só fazendo o feijão com arroz, dava pra dar uns 2 ou 3 passinhos a frente. "A gente tá posicionado, como um time profissional do interior que sempre vem aqui fazer o 'basicão'. O time grande da capital também está e não cria nada de assustador. Vamos indo mais pra perto do gol deles, todos juntos! Vai que alguma coisa a ente consegue!". Deve assim ter pensado o capitão da equipe. O goleiro do Grêmio, que nem viu a cor da bola no primeiro tempo, teve que sujar a roupa em alguns momentos do segundo tempo.
"Burro! Burro!". A torcida delirava atrás do alambrado. De ódio! "Tira um zagueiro! Poe o Douglas pra criar alguma coisa!". Nada.
Celso Roth então parece ter percebido que alguma coisa não estava andando bem (uma leve impressão, talvez) e chamou 2 reservas. Opa!! É agora!.. Chamou uma dupla de ataque nova e tirou a dupla cansada. O chamado "seis por meia dúzia".
Nada mudou. Mais uma vez o Grêmio deu uma acelerada, uma abafa, correria, puxão na orelha, chute na canela, xingou a mãe, joelhada no queixo, bola livre pro Reinaldo, quase pisou na bola, "Bola 5x0 Reinaldo", GOL DO GRÊMIO!.. Nem levantei pra comemorar..
É muito triste perceber o time da gente definhando. Sem jogadas, os zagueiros correndo com a bola, coisa sem nexo, tantando driblar até chegar ao gol. Deprimente ver o pessoal tentando mostrar empenho, mas transparecer que o Grêmio não tem treinado para vencer, mas só para não perder. Deve treinar sim muito posicionamento, eu acho. O Grêmio segue na mesma balada de 2008. Todos o conhecem, mas o treinador acredita que esse "planejamento" tem futuro. No final do jogo, mesmo com a vitória, fiquei sentado um pouco, absolutamente desiludido. O resultado é importante, mas foi óbvio: o Grêmio não ganhou esse jogo, o São Luiz perdeu. Como competente time do interior, veio treinado para marcar bem e esperando uma chance milagrosa de contra-ataque. Assim como o Aurora, da Bolívia, ou o Boyacá, da Colombia. O Grêmio agoniza numa fórmula que não tem criatividade, ousadia e surpresas. Que não tem futuro.
Queria muito estar errado e ver um time confiante, criando jogadas de verdade, surpreendendo os adversários. Isso não existe hoje. O Celso Roth, com seus operários, acha que o time cria jogadas quando seus jogadores correm como loucos até a linha de fundo mais rápido do que os adversários. E quando não correrem mais do que eles? Aí dirá Celso que não conseguiram criar as jogadas!
O Grêmio só se impõe fisicamente, não cria nada diferente, fica tocando a bola até onde é possível e, quando deixa de ser, tromba. Perde a bola. Ou, quando é o Souza, fica dando voltinhas com a bola. O Souza é o nosso Robinho! Não é culpa dele, é culpa do treinador que não o treina junto com os companheiros para fazer uma jogada de verdade. Aquele tipo de lance no qual alguém esteja sempre livre para receber um passe direto, sem dois toques. Aquele lance que, por mais bem posicionado o adversário, a bola anda de pé em pé, certera (aquele Grêmio de 2001). O Grêmio não faz isso. O Grêmio abafa como pode. Corre quando tem pernas. Tenta. E agoniza.
Espero que mude. Logo. Esse foi meu desabafo.
Abraços. |