Estou sentado na frente do pc, ouvindo música - mas, ao contrário do que o mundo inteiro pode imaginar, a música não vem de um arquivo virtual, e sim de um COMPACT DISC que está girando alucinadamente em uma SONZERA aqui do lado.
Imagino que qualquer pessoa que assistisse à cena ficaria comovida com a minha empolgação ao abrir caixinhas, botar o cd no som, trocar de disco, dar play, escolher a canção. É insanamente melhor do que simplesmente dar dois cliques em uma tela colorida. Talvez o fato de ser fácil demais conquistar uma música na internet diminua a força com que elas me conquistam. Não tem coisa melhor do que destrinchar um disco, ouvir ele sentado no cantinho do quarto, acompanhando as letras no encarte, com aquelas partes onde botaram fonte branca sobre fundo branco e não dá pra ler porra nenhuma (e acreditem, isso sempre acontece). Ouvir todas as dez canções que se tornaram sucesso e descobrir, escondida, aquela faixa pequeninha, quietinha, no canto dela, mas que se torna a mais cativante do álbum. Acho que se cria meio que uma relação de posse, de direito sobre aqueles três minutos de melodia, e, consequentemente, de paixão.
É isso. É muito mais fácil se apaixonar por uma música quando ouvimos ela no som, no toca discos, no show, na roda de violão e por aí vai. Claro que as facilidades dos mp3s são absurdas, pode-se ir de Oasis à opera clássica em segundos (mas a ópera clássica não fará show em Porto Alegre no dia 12 de maio). Literalmente. Só que, como tudo no plano virtual, as canções estão lá mas parecem não existir. Na minha cabeça, não são sons, e sim códigos sendo decifrados.
No disco, de certa forma elas tornam-se palpáveis, reais. E então eu posso ser escolhido por uma música, pegar ela com a mão, botar no bolso e carregar comigo pro resto da vida. |