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Temperado
André - 01 setembro 2008 - 21:07
Nem festas de gala, nem reuniões de família, nem comemoração do aniversário da empresa, nem janta na casa dos futuros sogros, nem cerimônia do Oscar... O lugar onde as convenções sociais pressionam mais as pessoas é, na verdade, o buffet.

Isso mesmo. O buffet de um restaurante é o momento mais delicado do dia porque ele envolve a satisfação de uma ou mais necessidade, e não apenas prazeres mundanos. É aquela hora onde as pessoas finalmente se permitem relaxar - e por isso mesmo ficam mais perigosas. Estamos lidando com criaturas tão ariscas quanto universitários proibidos de fumar maconha.

O simples fato de voltar pra pegar tomate, por exemplo, faz com que o cara pense duas vezes. Porque pra isso é preciso furar uma fila. E furar uma fila SEMPRE causa confusão: os de trás reclamam, os da frente ficam indiferentes, os do meio ficam brabos com a indiferença, os indiferentes não conseguem ficar indiferentes ao questionamento de sua indiferença... há um desequilíbrio do status quo (e desequilíbrio nunca é legal, podem perguntar pro Diego Hipólito). Sabem quando uma fila de formigas é interrompida, e elas ficam desnorteadas? Bem, é exatamente o que acontece com as pessoas. Exceto que os seres humanos têm a capacidade incrível de DRAMATIZAR exponencialmente qualquer momento apenas para se justificarem. Isso faz o ato de furar uma fila passar de vandalismo para possível suicídio. O buffet não perdoa.

Hoje mesmo um sujeito cometeu algo imperdoável: estava ele, com o prato, fingindo escolher o que ia pegar, quando ergueu a cabeça pra cima em um angulo de quarenta e cinco graus. Apertou os olhos. Fungou. O barulho ecoou pelo metal dos pratos. Fez uma careta que o tornaria candidato a um papel na refilmagem de Gremlins. E com um impulso digno de uma medalha olímpica, espirrou.

O verdejante projétil teve sua trajetória iniciada na parte dos molhos, TRESPASSOU os limites culinários e descarregou toda sua raiva em uma inocente beterraba. Mas o estrago foi muito maior, pois ESTILHAÇOS da bomba atingiram toda a região dos pratos quentes, antes um terreno fértil de alegria. Seguiu-se um silêncio de pura dor. Quase tive pena dele, digo a vocês. O cara não tinha onde enfiar a cabeça (a não ser no prato com molho de queijo, mas isso seria assinar uma deliciosa sentença de óbito). Olhou para os lados em busca de apoio, mas foi em vão. A partir daquele momento, tornou-se "o cara que espirrou no buffet". Em qualquer lugar, em qualquer época, em qualquer mundo, esta alcunha amaldiçoada o seguirá.

Porque no buffet tudo tem que ser calculado. Cronometrado. Manipulado. Não há tempo a perder, não se pode ser muito rápido, nem devagar, deixar algo cair, juntar, misturar. É um processo industrial, tão adorado pelo Ocidente. Se alguém comete um erro ali, tem que conviver com ele pelo resto da vida. É o espaço social mais assustador e impiedoso já criado. Mas, infelizmente, um mau que todos temos que engolir.
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