Parando pra pensar, talvez os registros estejam se tornando mais importantes do que os eventos - prova disso é o grande número de vídeos no YouTube identificando pessoas que pagaram uma nota para ver shows através das telas pequenas de suas máquinas digitais. Ou então a tentativa de espetacularizar ainda mais as transmissões/gravações de certos momentos através de recursos 'cinematográficos', como câmera lenta, closes em gestos, nuances, trilha, movimentos de câmera.
O vídeo com os 'melhores momentos' da Copa do Mundo de 2006 é muito superior ao que o torneio realmente foi. Posso afirmar isso com propriedade pois vi 53 das 64 partidas disputadas. É muito mais emocionante e empolgante. É o registro publicitário de uma Copa com poucas atrações, com poucas jogadas memoráveis, com poucos lances inesquecíveis. E se nem mesmo o espetacular gol da Argentina contra a Sérvia - um tango bem compassado que por si só poderia incluir todas as virtudes que pregam haver no esporte (união, trabalho em equipe, qualidade, inteligência) - entrou para os grandes momentos do campeonato, então talvez o futebol enquanto negócio esteja se tornando muito mais importante como recurso dramático do que qualquer outra coisa. Por isso tantos DVDs lançados, o Pedro Bial declamando poesia, novas câmeras e profissionais no campo: ilustrar os dramas ao invés de focar nos aspectos do jogo propriamente dito ajudam a manter a expressão "o esporte é como a vida".
Ou alguém acha que mostrar o U2 em um clipe oficial da Copa do Mundo tem alguma justificativa além de associar a imagem do futebol com a de uma banda de sucesso e, assim, com um produto espetacular?