Futebol é uma coisa simples: 22 jogadores em campo precisam fazer a bola cruzar a linha de fundo, dentro de um espaço determinado por duas traves e um travessão. O gol é a celebração máxima do esporte porque ele é a definição desse objetivo. É o momento crucial, o resultado de uma construção metódica ou caótica que buscou sempre essa finalidade. E muitos jogadores aprenderam esse conceito ao longo da carreira, tornando-se exímios atacantes que, na primeira oportunidade, (re)descobrem a rede
Um deles, entretanto, pareceu nascer com tal objetivo pronto, como se os segredos da área fossem um livro aberto à sua frente. Durante 20 anos, Romário foi o especialista em definir e decidir. Jamais tomei conhecimento de outro centroavante com tamanha desenvoltura, precisão, criatividade, inspiração e outros adjetivos que enaltecem o craque (no melhor sentido da palavra, e não no que é usado hoje em dia). A gestação de seus gols era caótica, pois de Romário saíam jogadas sobrenaturais - entretanto, assim como há ordem no caos, a lógica da bola era a de sempre procurar os pés do baixinho. E de lá para o fundo das redes.
Desconfio que o artilheiro, ao invés de nascer, tenha sido plantado e cultivado em algum campo de futebol. É a única explicação possível. Quer dizer, de que outra forma a ciência justificaria um cara de um metro e sessenta e nove cabecear livremente entre os muros da defesa sueca, na semifinal da Copa de 94? Depois dessa, Romário tem todo o direito de virar pra Isaac Newton e dizer "chuuuuuuuuuuuuuuuuuuuupa". Que outro centroavante pode debochar das leis da física?
A verdade é que ele pertence à região da grande área, faz parte dela. Um não é completo sem o outro. E agora que Romário de Souza Farias se aposentou de fato (é o que parece, pelo menos), há um buraco nos campos de futebol do mundo todo. Porque "gol" e "Romário" são palavras indissociáveis. São a mesma coisa. São o ponto alto do espetáculo.