uno, dos, tres...
André
Bruno
Kleiton
Laura
Leandro
Rafael
Thiago
14

hello, hello!
Cão Uivador
Dilbert blog
Forasteiro RS
GPF
Improfícuo
La'Máfia Trumpi
Limão com sal
Malvados
Moldura Digital
Notórios Infames
PBF archive
Wonderpree

hola!
Da Série: Eu vi link e não acreditei!
Caminhos trilhados
Aquilo que todo mundo já sabe!
Dúvida
Da nova série: Eu vi link e não acreditei!
E eu com esses números?
Nostradamus disse
De ponta a ponta
É nois na fita... digo, no Youtube
Onipresente

Swinging to the music
A 14 Km/seg
Expressão Digital
Peliculosidade
Suando a 14
Tá tudo interligado
Cataclisma14 no Pan
Libertadores 2007

dónde estás?


all this can be yours...





RSS
Um domingo qualquer
André - 13 abril 2008 - 16:23
Minha cota de provas públicas, até hoje, se resumia ao vestibular prestado para entrar na UFRGS, experiência não muito agradável mas que indiretamente levou à criação deste blog. Como o ser humano é, no termo científico, besta, incorri no mesmo erro ao me inscrever em um concurso público para o qual não estudei e cujas chances de aprovação são mínimas. E se você acha que estou exagerando, experimente acordar às seis da manhã de um domingo chuvoso para pensar sobre assuntos jurídicos e de legislação - caso goste da coisa toda, boa sorte com seu Corinthians na Série B este ano.

No entanto, já que a situação é inevitável, encará-la com relativo bom humor não faz mal nenhum (pelo menos a eliminação no concurso não será uma surpresa, ao contrário das eliminações contra Juventude e Atlético GO). Então, ao ser informado de que meu nome era o primeiro na lista da sala 05, respondi com um inspirado "espero que seja assim no teste também" e adentrei no recinto com uma inesperada satisfação. Nem todos os caminhos escuros trazem perigos.

Claro que não demorou para essa sensação literalmente ir para o saco: na entrada, um dos fiscais me entregou uma sacola plástica, pedindo que colocasse ali meu "celular e outros pertences" e depois lacrasse com um adesivo roxo. Ora, tanta desconfiança é até ofensiva. Além do mais, dado o meu histórico de infrações e o histórico de infrações do governo, eu é que deveria pedir para eles colocarem os pertences no tal do saco. Deixei meu dinheiro no bolso de trás da bermuda e passei o tempo todo sentado em cima dele, por via das dúvidas.

Privado da melhor e mais utilizada funcionalidade do meu telefone - o joguinho de boliche -, só me restava ficar sentado desenhando na classe (momento nostálgico). Enquanto as pessoas iam chegando, percebi que um dos fiscais se chamava Chiédson, ou seja, a primeira prova do dia foi que certos pais realmente não têm dó de seus descendentes. Enquanto o filho do Chiéd arrumava as coisas, me aparece um sujeito com uma camiseta branca escrito Sorte, ignorando completamente os limites do clichê - sem contar que "uma camiseta com determinada expressão atrairá exatamente o contrário do que ela quer dizer" (MURPHY, Vida, 1 pg.; ed. Spam), todo mundo sabe disso. Para aumentar a galeria de personagens, atrás do sortudo surgiu uma guria de salto alto, calça jeans de marca, blusa de marca, maquiagem... tudo isso pra sentar em uma cadeira bamba, se dar conta de que ela não sabe a matéria e pegar uma chuva poderosa na volta. Das duas uma: ou a fulana achava que ia desencalhar e arranjar um emprego no mesmo dia, ou ela é masoquista e saiu do concurso direto pra uma fila do Banrisul.

Começou então a parte de ler as regras e todo o blábláblá que, de tão repetitivo e sem graça, é quase como acompanhar o Brasil nas Olimpíadas. Logo após a distribuição das provas, os fiscais passaram pra pegar as digitais de cada um, e foi aí que surgiu a coisa mais aterrorizante de todas: o lencinho úmido. Não sei que tipo de MAGIA NEGRA é usada pra manter o troço molhado mesmo dentro de uma embalagem fechada, mas boa coisa não deve ser. Esfreguei o dedo com força na mesa até sair a tinta e parti pra cima da prova.

Li a primeira questão. Pulei. Li a segunda. Pulei. Li a terceira. Pulei. Passei para o questionário seguinte, matemática, a linguagem universal. Li a primeira questão. Ri com gosto. Tal qual William Magrão, chutei de qualquer jeito e fui para Português e Informática, onde quase chorei de emoção ao entender pela primeira vez uma frase inteira. De volta às perguntas sobre legislação e coisas do gênero, tentei resolvê-las seguindo uma lógica que compreende as 3 leis universais de qualquer governo (pão-durice, falta de ética e propaganda enganosa), o que me pareceu ter certo sentido.

Só que depois de finalizada a prova é que o trabalho realmente começou, pois eu tinha uma caneta preta, uma folha ótica e 60 bolinhas irritantemente redondas para preencher. O mais irônico é que absolutamente todas as formas erradas de preenchimento eram infinitamente mais fáceis e agradáveis. E ficam lá na folha, até com certo destaque, rindo da cara do sujeito que não se pode dar ao luxo de utilizá-las. Uma demonstração de sadismo que faria o taradão de Pulp Fiction corar.

Minha condição física pagou um preço alto nessa etapa, mas as dores no pescoço, ombro, cotovelo e mão nada significavam agora que tudo estava terminado. Juntei as coisas e me levantei para sentir o doce aroma da chuva lá fora - entretanto, o Chiédson veio correndo como um membro da alfândega estadunidense ao avistar um árabe e me pediu para sentar novamente. Tentei contra-argumentar, mas o fiscal pegou meu caderno de questões, levou até a mesa e voltou com uma folha para que eu anotasse o gabarito. Só então pude falar que eu não queria anotar as minhas repostas. "Por quê?", ele perguntou. "É uma coisa psicológica", respondi, "quero manter até o último minuto a ilusão de que posso passar".
Comentários: 7