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Os Melhores Dias de Nossas Vidas
André - 10 dezembro 2007 - 22:02
Renato e Alice eram pessoas casadas normais. Viviam suas vidas normalmente, faziam compras como pessoas normais, iam a shows de pessoas normais e, como todas as pessoas normais, tentavam não parecer normais.

Um dia, tiveram a oportunidade de sair daquela "normalidade". Depois de muita dedicação no trabalho, Renato ganhou uma passagem e estadia em Tóquio por alguns dias, com tudo pago. O problema é que Alice precisava ficar no Brasil para trabalhar. Combinaram, então, que Renato iria sozinho, que aproveitaria ao máximo a viagem e que traria pelo menos dois presentes pra esposa.

Ao pisar em solo japonês, ele se maravilhou com a cidade. Todas aquelas luzes, aquela cultura completamente diferente. Tudo era muito novo, e ele sentiu que tinha muito ainda a descobrir. Dando voltas a pé pela cidade, ficava maravilhado com as tecnologias disponíveis, apesar de se sentir meio perdido, pois não sabia falar japonês e ainda não havia se acostumado com a mudança de fuso horário.

No seu segundo dia lá, estava descendo uma rua quando parou pra olhar a vitrine de uma loja da Toyota. Seu interesse era apenas momentâneo, e já estava pra sair quando algo lhe chamou a atenção: junto ao carro mais bonito, tinha uma modelo, daquelas que ficam sorrindo pra chamar ainda mais a atenção pro produto principal. Renato nunca havia visto mulher mais linda: ela vestia uma saia de colegial, e o menor top que Renato vira na sua vida. Possuía pernas compridas, bem delineadas. Seus seios eram firmes, tenros, apontando sempre para a frente. Possuía um corpo espetacular, nem muito magra, nem muito gorda, com curvas sensuais onde qualquer piloto gostaria de derrapar, e um rosto belíssimo, angelical, com fios de cabelo caindo sobre os olhos puxados, passando pelo nariz delineado e chegando na boca carnuda. Em suma, uma mulher esculpida por Michelangelo e pintada por DaVinci.

Porém, havia algo que Renato realmente não conseguia acreditar: ela estava olhando pra ele. Uma mulher daquelas, que podia ter quem quisesse, estava olhando pra ele, Renato, um cara que saía pela primeira vez da América Latina e ainda não conhecia nada da cultura local. Mas era isso mesmo, ela não apenas o estava encarando como o chamou para entrar na loja. Renato limpou a baba do casaco e entrou. Meio hesitante, fingia que olhava os carros, mas foi na direção dela. A mulher o encarava, e ele não conseguia nem devolver o olhar. Chegou perto dela e, de cabeça abaixada, soltou o "Hi.." mais abafado da história da língua inglesa.

Ela falava inglês. Disse que seu nome era Sayuri. Não disse mais nada. Apenas entregou um papel a Renato, com que tinha o nome de um bar e um horário, meia-noite. Depois disso, virou o rosto e não deu mais atenção a ele.

Renato chegou um pouco atrasado no bar, a meia-noite e quinze. Sabia que estava fazendo algo errado, não esquecera que tinha uma esposa no Brasil, mas aquela japonesa não saía de sua cabeça.

Ao entrar, logo viu ela. Mas havia algo errado. Tinha um cara conversando com ela, com pinta de ser alemão. Renato se aproximou, e viu que, apesar das investidas, ela não queria mais conversar com o alemão. Renato interviu, mas o homem se irritou, dizendo que era de Hamburgo e que lá quem chegasse primeiro era quem ficava com a mulher. Renato então acertou o rosto do alemão com uma direita poderosa, mas logo sofreu o revide. Meio cambaleante, acertou um gancho no rosto do alemão, que voou pra cima do balcão, quebrando todos os copos e garrafas. Rapidamente, Renato e Sayuri saíram dali. Ela o convidou pra ir a seu apartamento. Disse que iria cuidar dos machucados dele.

O que se passou nas duas horas seguintes, Renato não esqueceu. Não poderia, mesmo que quisesse. E não queria, mesmo que pudesse. Fez sexo com Sayuri de uma maneira que nunca havia imaginado antes. Ela conhecia todos os movimentos, todas as técnicas, todos os segredos. Renato se deliciava passando a mão naquele corpo escultural. Nunca havia tido uma experiência igual. Nuca havia tido uma experiência nem mesmo remotamente semelhante. Sentiu como se tivesse ido ao espaço e voltado. Naquele momento, sentiu-se poderoso. O mundo era dele.

Ao voltar ao Brasil, Alice o recepcionou no aeroporto. Estranhamente, não sentia culpa nenhuma, apenas uma certa melancolia por saber que Sayuri agora iria atrás de outros homens, que fossem geograficamente mais acessíveis.

Assim, voltaram à normalidade nos doze anos subseqüentes (exceto por uma briga que tiveram, que acabou jogando Renato nos braços de uma morena feinha, uma mulher de segunda mão, mas que foi resolvida). Mas o destino ainda estava pra pregar uma peça nele.

Alice conseguiu também uma passagem pra Tóquio, doze anos depois daquela noite maravilhosa que Renato teve. Dessa vez, foram os dois, mas como a viagem de Alice era a negócios, Renato teria muito tempo pra circular sozinho pela cidade. E foi o que fez. Passou o tempo inteiro procurando Sayuri. Foi à loja da Toyota, mas ela já tinha saído e só voltaria no outro dia. Procurou ela por toda parte, por todos os cantos da ainda mais iluminada Tóquio. Aliás, eram tantas luzes, neons e coisas do gênero que Renato sentiu-se tonto. Sentou-se num banco em frente a um estádio de futebol, pra relaxar. Respirou fundo, tomou um pouco de água e, ao levantar o olhar, não acreditou no que viu: Sayuri estava ali, na sua frente, tão linda e escultural quanto estava doze anos antes.

Dessa vez, não perdeu tempo e foi direto falar com ela. Ela se lembrava dele, e deram caminhadas agradáveis por um parque que tinha ali perto. No entanto, ao começar a dar investidas, o mundo de Renato caiu: ela estava namorando um holandês. Depois de todo aquele trabalho, todo aquele tempo, ele não conseguiria beijar aqueles lábios carnudos, nem passar a mão naqueles cabelos macios. A exaltação inicial deu lugar à mesma melancolia que teve ao desembarcar no Brasil doze anos antes. Conversaram por mais um tempo. Ela lhe deu o número de seu telefone no Japão pra ele, mas logo depois disse que precisava ir pra encontrar o holandês. Renato ficou abatido, inconsolável.

Ao voltarem pro Brasil, a tal "normalidade" não foi atingida de novo. Renato sempre pensava em Sayuri. Onde quer que fosse, procurava uma maneira de tentar ir até ela de novo. Não dava valor ao que não pudesse ter alguma ligação com ela. Foi então que Alice, irritada, terminou tudo. Não queria mais viver assim. A tristeza levou Renato a voltar para os braços da mesma morena de segunda que o acolheu da outra vez. Porém, decidiu não desistir. Decidiu que iria reconquistar Alice. Sayuri saiu então de sua cabeça, e, ao longo dos últimos seis meses, ele tem tentado incessantemente reconquistar Alice.

E é aí que ele está errado. Mesmo que volte a reconquistar Alice, nunca será plenamente feliz com ela. Não depois daquela noite em Tóquio. Não depois de ter corrido no corpo macio, quente, adorável de Sayuri. Essa busca de Renato o levará a anos de uma vida "normal", de uma vida que não é mais o suficiente pra ele.

Renato só precisa fazer uma coisa. De alguma maneira, tem que voltar a Tóquio e conquistar Sayuri de novo. Depois dela, nenhuma será tão boa, nem tão relevante. Pois Renato jamais irá se esquecer daquela note memorável, daquela noite onde as horas diluíram-se em minutos de prazer puro. Daquela noite onde ele teve a melhor sensação de sua vida, algo que ele não chegou perto de alcançar mais uma vez. De como Sayuri fez parecer que ele, de alguma forma, estava no espaço, com estrelas a sua volta, com o sol quente o aquecendo, com a lua embelezando tudo.

Não, ele nunca esquecerá aquela noite em que ele foi o dono do mundo. E, lá do topo, ele pôde se virar pra baixo e gritar, com todo o ar em seus pulmões, gritar para o planeta inteiro ouvir: "A TERRA É AZUL!"

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