Soa ultrapassado rotular ambiente feminino e ambiente masculino hoje em dia. A antiga visão de “futebol, coisa de homem” não condiz com o interesse que as mulheres têm demonstrado pelo esporte bretão. As nossas leitoras do Cataclisma comentam posts futebolísticos (vamos lá, gurias! Não me deixem mentir). Conheço muitas meninas que freqüentam estádios, meninas que às vezes roubam a atenção de parte da torcida.
E elas não estão apenas na platéia, algumas participam ativamente do espetáculo. E que espetáculo! Mulheres fazendo reportagem de campo, mulheres comentando jogos em transmissões ao vivo e com entendimento, sabem mais do que o Casagrande! (desculpe, era pra ser um elogio...). Foi-se o tempo em que mulher no futebol era só Maria-Chuteira.
O espaço conquistado já é bem representativo, tem umas que comandam os jogos. Está cada vez mais comum ver um trio de arbitragem formado por beldades. Mas parece que tem marmanjo muito incomodado com essa florida e muito bem vinda invasão, provavelmente aqueles que recebem ordens em casa e não toleram receber ordens de mulheres no campo também.
O maior exemplo de sucesso feminino nesse meio é a TOP Ana Paula de Oliveira. No começo, ela surgiu como presença inusitada nos gramados; mas com o passar do tempo suas atuações começaram a ser respeitadas pelo grau de dificuldade de alguns acertos de suas marcações. E naturalmente, se a justiça for feita, ela chegará a representar o Brasil em uma Copa.
Mas foi só assinalar dois impedimentos do ataque do Botafogo – e depois de rever as jogadas tenho duvida em apenas um deles, no outro ela estava certa - num jogo que acabou com o que seria a segunda final carioca de Copa do Brasil consecutiva que tentaram destruir sua carreira.
Numa verdadeira cruzada motivada por uma mistura de bairrismo e machismo, a mídia investiu impiedosamente contra a musa. Chegou a ser patético, remexeram nos arquivos para achar os outros dois erros ‘’cruciais’’ de toda a carreira dela. E um deles, fruto de uma edição de imagem pra lá de parcial, aonde a explicação e a constatação do acerto viria logo após o corte do lance na reportagem.
Algum cartola mal intencionado resolveu se aproveitar da situação, e a federação rebaixou Ana Paula para a quarta divisão paulista e torneios extra-oficiais. Como se não bastasse, “repórteres” se prestaram a cobrir uma dessas partidas e, ao final, foram “entrevista-la” com perguntas irônicas.
O engraçado é que homens cansam de errar com o apito na boca – e fui politicamente correto na escolha do verbo, vide Libertadores 2002 e Brasileirão 2005 – sem sequer receber nenhum tipo de represália, que dirá punição.