Direção: Zack Snyder Roteiro: Kurt Johnstad, Zach Snyder e Michael Gordon, baseado na graphic novel espetacular de Frank Miller e Lynn Varley
Elenco: Gerard Butler (Rei Leônidas) Lena Headey (Rainha Gorgo) David Wenham (Dilios)Vincent Regan (Capitão) Michael Fassbender (Stelios) Rodrigo Santoro (Xerxes)
Já aviso: esse post vai ser comprido. Muito comprido.
No ano 480 a.C. os persas querem fazer que nem o Grêmio entre 95/98 e conquistar tudo. Então se bandeiam pros lados da Grécia (que ainda não tinha sido campeã da Euro) na tentativa de subjugar a gurizada lá, mas o Leônidas FODÃO (rei de Esparta) se mete no meio do caminho - no desfiladeiro das Termópilas, pra ser mais exato - com seus 300 soldados bróders e diz que só vão avançar por cima dos cadáveres deles.
Vamos otimizar a coisa: todas as cenas que envolvem a "subtrama política" da rainha são ridículas e deviam ser eliminadas. O narrador é ruim - soa como aqueles velhos dos filmes de terror que sempre avisam os adolescentes dos perigos e nunca são ouvidos. Rodrigo Santoro torna Xerxes uma bixona, e a sua voz alterada por computador soa como o "Saddam Hussein" de Top Gang 2 falando que nem o Darth Vader. A trilha sonora é um lixo. Heavy Metal pra um filme épico? Por favor.
O diretor Zack Snyder coloca a história em ordem cronológica: primeiro explica passo-a-passo como os espartanos formam seus soldados, para depois jogar Xerxes, os persas e o quebra-pau em cena. Uma mudança acertada pois, embora "apresse" o resto, esclarece as coisas para o público (afinal, estamos falando de um blockbuster). O problema é que logo nas brigas entre as crianças começa a fórmula "câmera lenta + sangue jorrando", utilizada de forma exagerada ao longo do filme.
Aliás, parece que a proposta do filme foi essa: fazer uma coisa "estilosa", um balé violento e estilizado. O problema é que muitas vezes o Sr.Snyder não sabe posicionar sua câmera. Se vocês repararem, os melhores enquadramentos são chupados da arte de Frank Miller na graphic novel, enquanto no resto do tempo mantém uma posição "clássica", sempre no mesmo ângulo(exceto nas batalhas, como irei falar adiante). E isso muitas vezes resulta em algo teatral: quando Stelios corre para avisar Leônidas de que há um contingente de persas chegando, não há um plano dele correndo, outro do rei observando para depois ambos contracenarem. Ele simplesmente surge em cena, como se tivesse saído da parte de trás do palco em um espetáculo da Broadway. É ridículo.
Apenas quando os exércitos se enfrentam o diretor resolve se mexer um pouco. E aí volta a sequência "câmera lenta + sangue jorrando". E lá se vai sangue. Mais sangue. E de repente o diretor aperta o FF e dá uma acelerada rápida. Depois, câmera lenta de novo. Ou seja, ele quer por que quer te mostrar que aquilo não é uma história, e sim um filme - e esses "efeitos modernos" é tudo que um épico cujo objetivo é emocionar o público não precisa. Então cenas bem coreografadas como um sequência que envolve Stelios e o filho do capitão acabam perdendo força (para ver uma luta fantástica e que não apela para efeitos ridículos na tentativa de soar "cool", clique aqui).
Ah, bem lembrado: a única parte que realmente chega perto de emocionar é o discurso de Dílios no final, onde direção, atuação e trilha sonora convergem de forma admirável. Mas logo vem o Sr.Snyder estragar tudo, utilizando zooms escrotos que cortam completamente a empolgação.
No entanto, o pior é a róliudinização das personagens. Para se render a algumas convenções, Leônidas e seus soldados falam e agem de forma contraditória. Se "apenas os fortes e ásperos" podem ser espartanos, porque fazer um drama na morte do filho do capitão? Aliás, quando os soldados se reúnem e o rei fala "Capitão, seu filho é jovem demais para ter provado o sabor de uma mulher", já sabemos que ele vai morrer. E de onde saiu aquele discurso depois que o guri bateu as botas? Um capitão "forte e áspero" não iria sair desabafando para os outros como se estivesse em um consultório. A luta entre Leônidas e um cover do Ajax do filme Tróia é outro ponto baixo, pois não há suspense ali, e serve apenas para enfraquecer a imagem do rei. E nem vou começar a falar do colarzinho...
Tentei fazer um apanhado mais genérico das muitas falhas do filme, pois poderia usar mais mil palavras aqui e não ia ser o suficiente para dizer tudo. Por que, então, não dei nota zero? Porque realmente tiro o chapéu para algumas cenas. A árvore de cadávers, a frota persa afundando no mar, o ataque de Stelios ao cortar o braço de um mensageiro ou enfiar uma lança no peito de outro, os espartanos empurrando os persas para o mar... são sequências de tirar o fôlego, e que infelizmente tornam-se a exceção. Elas me lembram do potencial dessa história, e do espetáculo que este filme poderia ter sido. Mas, embriagado pelas modernas técnicas computadorizadas, o diretor castrou toda e qualquer emoção que a película poderia ter, tentando transformar uma batalha épica em uma obra estilosa, algo tipo "quero-ser-Sin-City".
Por mais que tenham tentando, não existe como o espectador se identificar com os espartanos. Eram de outra sociedade, outros tempos. Eram cruéis, sanguinários, militares... nosso único elo de ligação é a admiração pela sua luta por liberdade. Pelo seu sacrifício. Pela sua paixão por Esparta.
Mas isso não existe em 300. Não há glória nestas duas horas de filme. Tomando a liberdade de citar Xerxes, "Esparta não será lembrada".