Direção: Robert Zemeckis Roteiro: James V. Hart e Michael Goldenberg, baseado em livro de Carl Sagan
Elenco: Jodie Foster Matthew McConaughey Tom Skerritt David Morse William Fichtner
Quando o filme acabou, minha mãe passou na sala e, ao olhar a capa do DVD, perguntou se era um filme sobre extraterrestres. Eu respondi que não: Contato é um filme sobre humanos.
Desde piá a pequena Ellie Arroway catava indícios de outras vidas no universo, curiosidade incentivada pelo seu pai. Já adulta, consagrada no ramo científico e interpretada pela Jodie Foster, ela capta o que podem ser os primeiros sinais de que há vida lá fora.
A pergunta que o filme parece fazer é "E o que acontece a partir daí?". Quem é o dono dessas mensagens? E quem na Terra possui propriedade sobre elas? Se foram descobertas por uma pesquisadora americana, então os Estados Unidos são os únicos que possuem o direito de investigar?
O grande mérito do diretor é mostrar todas as implicações que possam originar desse fato. Enquanto Ellie enxerga os sinais com entusiasmo, o Secretário de Defesa, mais retranqueiro do que a Seleção da Itália, acha que tudo é uma ameaça ao país. Já as manifestações religiosas, desde as mais simples até as mais radicais, proliferam-se mundo afora. E até onde a imprensa pode ser determinante em tudo isso? Uma notícia dessa interfere na vida de todos, e cada um tem uma reação diferente. Pra começo de conversa, basta dizer que a primeira mensagem enviada pelos estrangeiros é uma imagem de... Hitler! E ainda dizem que o vídeo da Cicarelli é polêmico.
Disposto a mostrar a natureza dos seres humanos, o roteiro não se preocupa em fazer agrados: embora seja a heroína, Ellie também é caracterizada pela obsessão com as mensagens, algo que para ela "vale a perda de uma vida humana". A máquina que os ET's mandam o pessoal construir é vista com desconfiança, a tal ponto que os cientistas colocam novos acessórios que não estavam nas instruções - e que, mais tarde, provam ser prejudiciais para o funcionamento da mesma. É a velha prepotência em ação.
Dirigindo tudo de forma sóbria e sem exageros, Robert Zemeckis consegue nos fazer acreditar que aquele é um mundo real, e não de ficção científica. É povoado por pessoas reais, cujas opiniões acerca do acontecimento são formadas pela mídia ou por crenças profundas - não é à toa que em determinado momento a área ao redor do laboratório vira um circo, com manifestações, festas, pessoas curiosas e propagandas fazendo alusão aos extraterrestres.
Algumas coisas, no entanto, incomodam: o romance entre a doutora e o pastor é extremamente forçado, a amizade dela com um colega não passa a impressão de ser tão grande (e isso resulta num puta clichê na finaleira) e tem aquele cara que quer roubar os créditos pelo trabalho, para que possamos torcer ainda mais pela protagonista.
Mas, no final das contas, o que fica mesmo é uma impressão de que ainda não estamos prontos para contato com diferentes culturas, sejam elas terrestres ou não. Como diz um personagem extremamente importante:
- Vocês são capazes dos mais belos sonhos e dos piores pesadelos.