Ontem quando o T2A chegou na parada ele estava um pouco diferente: todo enfeitado, com dizeres "Rumo ao Hexa" nas janelas, bandeiras do Brasil, bolinhas de futebol penduradas no teto, faixas verdes circundando as barras... enfim, sai a melancolia usual do transporte e entra a animação do Hexa. No país onde futebol é uma religião, não chegou a ser uma surpresa, mas me empolgou o suficiente para fazer um comentário óbvio e desnecessário com o cobrador:
- Clima de Copa, então?
- Clima de Copa não: clima de Hexa!
Posso pensar em vários motivos pra torcer contra o Brasil: não gosto da expressão "Hexa"; não quero que a seleção canarinho dispare na frente das outras e a Copa do Mundo vire uma fórmula 1 dos tempos de Schumacher; Dida, Cafu, Roberto Carlos, Zé Roberto, Ronaldo, Adriano, PARREIRA... enfim, todos motivos bons e coerentes.
Mas logo entrou ela, que sobe na segunda parada depois da minha. Loira, é claro, radiante como o sol que corta as nuvens e clareia um dia nublado. Com um sorriso que desarmaria até os mais prevenidos e insensíveis, ela fez EXATAMENTE o mesmo comentário que eu. Tudo bem, é uma coisa bem simples, mas somos duas pessoas completamente desconhecidas que, no momento, possuem alguma paixão em comum.
E eu gosto desse clima de Copa. Gosto de torcer apaixonadamente por um time. Gosto de sofrer com o jogo, de gritar, de vibrar. E gosto da minha pátria, até porque o Rio Grande do Sul faz parte dela - e aqueles vídeos da ESPN com o Bono narrando ressucitaram um pouco do espírito patriótico que Parreiras e Ronaldos tinham enterrado de vez.
Portanto, acho que vou com o Brasil, pelo menos até enfrentar uma Holanda, uma República Tcheca, uma Inglaterra - aí eu vejo o que faço. Na pior das hipóteses, conquistar o Hexa vai fazer ela sorrir ainda mais quando subir no ônibus.
E aí já valeu a pena. |