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Um (outro) texto para sexta-feira
André - 02 junho 2006 - 12:55
OBS: favor ler o post do Kleiton (uns quatro ou cinco abaixo) primeiro, já que a idéia foi dele.

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Olhava ansioso a tela do Mac. Um pedido de cliente, urgente, pra ser feito ainda na sexta-feira – pedido feito cinco minutos antes do final do expediente. “Putaquepariu”, pensou. Isso significava mais uma noite de sexta virada em trabalho, e justo hoje quando ele ia sair com aquela mulher. AQUELA mulher. Respirou fundo, levantou da cadeira, e foi buscar algum funcionário/colaborador para que tudo andasse mais rápido. Não tinha muitas esperanças de sair cedo, mas nunca se sabe.

Parou o sujeito no corredor e perguntou se ele tinha mais um tempinho, porque tinha pintado mais um trabalho e o cliente queria pra hoje ainda. Esforçou-se o máximo para que a pergunta saísse compreensiva, mas não deixou dúvidas de que era uma ordem. Viu no rosto do sujeito a frustração, e imaginava quais xingamentos passavam pela cabeça do cara e se a sua mãe estaria no meio deles.

Preparou-se para qualquer mau-humor, ofensa, palavrão, até mesmo alguma agressão física, porque não ia aceitar nenhum desculpa do tipo “minha mãe está doente e preciso comprar alguns remédios antes que a farmácia feche” – até porque as farmácias ao redor eram 24h e a mãe do sujeito havia falecido menos de seis meses antes.

Mas olhou incrédulo depois que o funcionário/colaborador esbarrou no seu ombro, fazendo com que caísse sobre a mesa da secretária, espalhando todo o trabalho dela e prendendo mais uma pessoa no escritório naquela noite. Levantou-se de um pulo e cerrou os dentes enquanto o sujeito ia rápido em direção à escadaria e, correndo, pulava os primeiros três degraus que o levariam a uma agência de empregos.

Eram só dois andares antes da saída, e estava em desvantagem. Mas viu o elevador aberto e, atropelando quem estava no caminho, jogou-se ali dentro, apertando o “P” com uma destreza e rapidez que o surpreenderam. Se recompôs, e ficou pensando se o idiota não tinha tropeçado nos degraus com aquela velocidade. Seria uma queda feia, mas mesmo que o cara quebrasse o fêmur ele ia trabalhar na sexta de noite. Tinha virado uma questão de honra.

Atingiu o térreo e viu o sujeito correndo pelo hall, provavelmente em direção à parada de ônibus. Enquanto discava um número no seu celular, fez um sinal para o segurança que, sem entender, tentou barrar o funcionário/colaborador. Em vão – o cara passou voando pelo segurança, que pesava pelo menos 30kg a mais. “Só numa sexta-feira mesmo”, pensou. Continuou correndo em direção à porta, com a ajuda do pessoal da recepção, e via as pessoas assustadas com a confusão e se perguntando o que estava acontecendo.

O funcionário/colaborador saiu pela porta direto até a parada, onde um ônibus fez menção de arrancar. Viu enquanto o sujeito fazia sinal, subindo com o ônibus em movimento. O rapaz estava finalmente fora de seu alcance mas, estranhamente, isso não o deixou irritado. Não, ao invés disso olhou os lindos tons de laranja e violeta do final da tarde, que iam escurecendo. Era sexta-feira, e aquele cara merecia sair, ver os amigos, a namorada, jogar um futebol... era uma sexta, o dia final da semana, e aquele sujeito que ele perseguiu tinha todo o direito de esquecer do mundo e relaxar – afinal, se um homem pode esquecer todos os problemas e aproveitar o fim de semana, então todos podemos. Aos poucos, um sorriso ia se formando nos seus lábios, uma calma estava invadindo sua mente: podia fazer o trabalho sozinho, podia sim.

Voltou à realidade com uma buzina e a fala mansa do guardador de carros, que “tinha pegado o carro e vindo o mais rápido possível, que nem o senhor pediu no telefone, doutor”. Sem perder tempo, entrou no carro e girou a chave na ignição:

- Se eu vou ficar mofando a noite toda aqui, então aquele FILHO DA PUTA vai ficar também.

E arrancou atrás do ônibus, cantando os pneus e fazendo cara de mau – era sexta, dia de semana, dia de trabalho ainda. Deixou momentamente de lado aqueles pensamentos de que todos deviam aproveitar o fim de semana, de que ele podia fazer o trabalho sozinho, de que o sujeito merecia passar aquela noite sem preocupações.

No sábado pensaria a respeito.
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