Quando falei do comercial da Samsung aqui, disse o quanto ele havia mexido comigo e tentei, dentro do possível, analisá-lo enquanto uma obra de arte. Pois aconteceu de novo: a Nike (que também já foi beneficiada com um post aqui no blog) realizou um vídeo épico pra seleção holandesa após a derrota na final da Copa. E é uma obra tão intensa que não posso deixar de pensar que ela alcança muito mais do que os vídeos "tradicionais" de publicidade e pode ser elevada a outro nível. Então aí vai:
Os holandeses esperaram muito tempo por este momento. O momento onde egos foram destruídos. Onde a história foi apagada. Onde 23 jogadores sangraram como um só. Um time com uma missão: terminar o que começaram. Chegamos tão longe pra aprender uma coisa: quando você dá tudo o que pode, nunca sai derrotado.
A primeira coisa a destacar é a fotografia: granulada, dando um aspecto sujo e real e por vezes monocromática, ela diz sem meias palavras que "o sonho acabou, é hora de voltar à realidade" (e reparem que entre 0:18 e 0:21 filtros vermelho e amarelo "cruzam" a tela, remetendo a uma sirene, que sempre significa emergência - e combina perfeitamente com um elemento da trilha, que será abordada daqui a algumas frases). A câmera é inquieta, como se ainda estivesse tremendo por não ter superado o baque de perder a final, e os jogadores aparecem sempre com uma expressão sisuda, envoltos em sombra (ou à frente de um fundo escuro, como é o caso do Sneijder). É uma atmosfera pesada, melancólica, como deveria ser a de um time que foi derrotado em uma final de Copa do Mundo. Os quadros no início do vídeo relembram as outras duas quase-conquistas (1974 e 1978), e tornam o fardo de 2010 ainda maior - e o travelling no último plano, afastando-se do Sneijder, é emblemático, como dizendo "acabou, agora é um adeus por longos quatro anos".
A trilha melancólica, uma guitarra solitária que soa como se fosse tocada com raiva e frustração, recebe apenas o apoio de uma sirene que ecoa duas vezes, ilustrando o estado frágil no qual se encontram todos os holandeses após tamanha decepção. A locução do capitão Gio Van Bronckhorst, sóbria, recita um texto que, até sua última frase, toca na ferida e expõe sem meias-palavras o que um país inteiro está sentindo.
É aí que a coisa muda de figura. Por 26 segundos a Nike não tentou confortar a Laranja Mecânica e seus admiradores, mas sim criou uma atmosfera mostrando que entendem a sensação. Isso cria uma empatia imediata, pois a utilização impecável dos elementos já citados torna esses 26 segundos tempo suficiente para o espectador identificar o tamanho do esforço e da derrota. Então vem a derradeira frase: when you give everything, you lose nothing. Pronunciada aleatoriamente, pode soar como uma frase de auto-ajuda simplória. Mas, colocada nesse contexto intenso, tendo como base um drama apresentado de forma tão coesa e emocionante, ganha um sentido novo. E deixa de soar como consolo para soar como reconhecimento, honra e grandiosidade. |