Só se fala nisso. A coqueluche do momento é a nova lei conhecida como tolerância zero ou lei seca. É até meio complicado falar de um assunto que rende quase tantas especulações quanto o Big Brother, até mesmo porque este é um blog comunitário e as opiniões de seus colaboradores podem divergir entre si.
O fato é que tudo o que é radical se torna polêmico e que todo mundo adora uma polêmica para aparecer falando bobagem pros outros ouvirem. Outro dia vi uma reportagem sobre a preocupação dos padres com a lei. Segundo o jornalista, os vigários tomam vinho por tradição na cerimônia da missa e muitos deles acabam dirigindo carros logo em seguida para realizar seus demais afazeres, sendo assim a cultura do catolicismo estaria sendo posta em xeque. Pelo amor da Santa Genoveva! Ainda que seja comum a categoria padre/piloto, quem é que vai fazer um padre assoprar o bafômetro e autua-lo por embreaguez?
Numa situação dessas a gente chega a conclusão de que se os números não mentem jamais pelo menos eles titubeiam as vezes e se contradizem. Uma série de dados a respeito dos resultados das primeiras semanas de aplicação da lei vem sendo publicada em todo canto. ''O faturamento das casas noturnas caiu 40%" dizem os opositores da lei, enquanto que o outro lado acena com ''O número de acidentes graves se reduziu à metade". Cada um dá mais ênfase aos dados que convém ao seu ponto de vista e essa discussão ainda vai rolar por muito tempo nas mesas de bares por aí.
A mim o número que mais surpreendeu foi o efetivo da Polícia Militar deslocado para fazer cumprir a nova lei. O discurso não era de que precisávamos de mais homens? De onde saiu tanto policial? Possivelmente de algum lugar onde não se precisa mais de segurança, afinal a nova lei é mais importante, ela tá na mídia. E o negócio é evitar mortes no trânsito, assassinato tanto faz. Alia-se a isso o fato de que lidar com um pinguço é muito mais fácil do que enfrentar um bandido armado.
Eu, Thiago, sou favorável a essa lei e com todo o rigor que ela impõe. Porque ser humano é bicho triste, não sabe reconhecer seus próprios limites: se ganha a mão já quer logo o braço. E se a exceção sempre vira regra, então é melhor mesmo que não se abram exceções (apesar de a gente saber que elas nunca deixarão de existir, afinal quem pode desviar dinheiro público também pode dirigir bebaço). Além disso, o Estado nos concede a permissão para dirigir por nos julgar responsáveis a ponto de não representar-mos ameaça, então acho certo que ele tenha o direito de revogar essa permissão quando a gente prova o contrário. A menos que o pau d'água vá fazer o exame prático de direção completamente embreagado.
Meu único problema é com a punição atribuida, se tu coloca um cara que bebeu um pouco a mais e não chegou a causar dano a ninguém ao lado de um traficante, por exemplo, os resultados dessa equação só podem ser dois: ou sairão dois traficantes ou só o traficante sairá. Acho que já passou da hora de adotarmos a cultura dos trabalhos comunitários...