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André - 12 julho 2008 - 14:22
Conduta de Risco (Michael Clayton)
4/5

Direção: Tony Gilroy
Roteiro: Tony Gilroy

Elenco
George Clooney (Michael Clayton)
Tom Wilkinson (Arthur Edens)
Tilda Swinton (Karen Crowder)

Michael Clayton é um sujeito que trabalha para limpar a sujeira dos clientes da firma de advocacia onde trabalha. Quando seu amigo e colega, Arthuer Edens, revolta-se contra uma corporação que paga uma grana legal para a empresa dos advogados, o ex-batman fica dividido entre a ética e a necessidade.

Sempre que ouvi falar de Conduta de Risco, indicado a melhor filme no Oscar 2008, o comentário vinha acompanhado da expressão thriller político. Pois a questão política na película é justamente a mais óbvia, trazendo de volta a velha questão do "trabalhador x megacorporação fiadaputa". Não que isso anule a idéia que a trama tenta passar, mas a grande força do filme são mesmo as personagens.

Começando, claro, por Michael Clayton, que já na sua cena inicial aparece apostando em uma mesa de poquer (e perdendo): claramente insatisfeito com o que faz ("eu sou o faxineiro", diz ele em certo momento), o protagonista se conforma com a situação, tornando-se apenas o produto das necessidades das grandes empresas. É o cara que resolve os problemas de qualquer pessoa, menos os próprios, pois anda às voltas com dívidas e problemas familiares. Mantendo sempre uma postura com a cabeça ligeiramente baixa, George Clooney não apenas indica o cansaço da personagem como também a ausência de qualquer vontade de mudar as coisas. Suas falas são calmas e pausadas, como alguém que já conhece o final e não gosta dele, mas mesmo assim permanece na estrada.

Ao seu lado, Tom Wilkinson consegue ilustrar com competência a confusão de Arthur, sem deixar de lado a inteligência do advogado que, quando precisa, sabe estruturar e colocar seus argumentos com força. E Tilda Swinton encarna com perfeição a contradição nervosismo/segurança de sua personagem, mantendo-se firme nas cenas onde ela contracena com outros membros da corporação, mas ficando inquieta quando está se preparando para alguma reunião.

Junto com essas três grandes atuações, o roteiro busca desenvolver bastante a situação - a idéia de que Arthur tirou a roupa em uma reunião, por exemplo, é bastante trabalhada, ao invés de servir somente como catalisador para a história (aliás, colocar alguém que quer fazer a coisa certa como uma pessoa mentalmente instável não é nenhuma sutileza do script). O relacionamento entre Clayton e seus familiares também é importante aqui, pois reforça os conflitos éticos que se abatem sobre a personagem, e sua insatisfação com tudo fica clara em uma conversa onde ele mostra-se preocupado com o futuro do filho.

Estreando na direção, Tony Gilroy mantém o visual sempre sóbrio, cheio de sombras e com uma trilha minimalista de James Newton Howard - e uma sequência é particularmente impressionante: um assassinato fotografado em um plano-sequência de alguns minutos. A idéia de mostrar a situação sem cortas aumenta não apenas a tensão, mas também a frieza do ato e a fragilidade da vida humana, que em questão de segundos pode ir embora. De resto, boas escolhas de enquadramento e iluminação.

É uma pena, portanto, que após tanto trabalho o filme acabe se traindo no final, quando força uma resolução que, além de batida, não condiz com o que foi apresentado até ali. Tivesse Conduta de Risco acabado alguns minutos antes, a trama política que eu chamei de "óbvia" lá no início do texto ganharia força, tornando-se uma poderosa ilustração de como a ganância leva as pessoas, cada vez mais, a ultrapassar todos os limites.

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