Um fenômeno natural desconhecido faz com que as pessoas comecem a se matar de formas bizarras e criativas. No meio disso tudo, um professor de ciências faz o possível para salvar a sua pele e a de sua família.
Shyamalan deve ser um dos diretores do mainstream hollywoodyano com mais liberdade para criar e produzir seus projetos, visto que até mesmo o seu duramente criticado (mas genial!) A Vila arrecadou bons milhões de dólares mundo afora. Não é a toa que quando fui assistir Fim dos Tempos a sessão estava lotada - graças às referências à O Sexto Sentido e Sinais na campanha de marketing, acredito.
Bem, o diretor indiano teve seus quatro primeiros filmes (e obras-primas) lançados pela Disney. Assim que atritos sobre A Dama na Água começaram a surgir entre o cara e os produtores, ele vazou e foi pra Warner. E eu só posso torcer fervorosamente para que agora, na FOX, algum produtor besta tenha metido o dedo na história e que por isso Fim dos Tempos seja absolutamente broxante.
Mais do que reviravoltas, Shyamalan sempre foi capaz de narrar histórias com incrível sensibilidade. Buscava uma linguagem própria para cativar e assustar, percebendo a importância de cada enquadramento e trabalhando elementos como o silêncio de forma competente (ao contrário da crescente onde de barulheira nos filmes de terror). Sabia que para amedrontar os espectadores precisava de duas coisas: que eles se importassem com as personagens e que imaginaralgo é muito pior do que ver algo. Hitchkock dizia que o suspense entra em cena quando já sabemos o que vai acontecer. Pois Shyamalan sempre seguiu essa linha, criando sequências absolutamente tensas justamente pela antecipação do que está por vir.
Infelizmente (mas infelizmente MESMO), muito pouco disso se vê no seu mais novo filme. Os diálogos são burocráticos, algumas vezes risíveis - na primeira cena em que Julian aparece, por exemplo, ele informa ao espectador, de forma nada sutil, que Elliot e Alma estão com problemas. Em outro momento, o cientista faz um monólogo ridiculamente expositivo tão absurdo que quase pensei estar frente à uma crítica do diretor à indústria (no sentido pejorativo) cinematográfica. Ao invés de MOSTRAR a evolução e os sentimentos das personagens, como fazia de forma brilhante, o diretor simplesmente INFORMA seus pensamentos quando necessário. Dessa forma, o que se vê na tela são apenas catalisadores para a história andar em frente, principalmente quando se percebe a inexpressividade de Mark Wahlberg e, principalmente, Zooey Deschanel.
Pior do que isso é ver um antes criativo cineasta apelar para convenções do gênero na tentativa de tocar o terror. A trilha subindo e culminando com o susto "que ninguém espera"? Sim, está lá. O desespero do protagonista em câmera lenta ao tentar evitar uma tragédia? Também lá. A tensão inicial criada por planos-detalhe de árvores e plantas se mexendo vai pro espaço quando um grupo de pessoas literalmente foge da grama. Algumas mortes são mais engraçadas do que assustadoras, e essa exposição gráfica desnecessária foge à idéia de fazer o espectador imaginar o que vai acontecer. Mais uma vez, todo o suspense se dissipa.
Ainda existem ali algumas cenas tensas, alguns momentos cômicos eficientes, alguma discussão sobre a natureza humana nas situações de desespero. Mas ficam tão isolados que empalidecem diante do todo. Em algum momento a mágica ficou pra trás, e espero mesmo, de verdade, que isso seja resultado de interferência dos chefes e produtores, porque eu ainda não consigo assistir Sinais quando estou sozinho em casa.