O Sexto Sentido - 5/5 Corpo Fechado - 5/5 Sinais - 5/5 A Vila - 5/5 A Dama na Água - 4/5
Desde que emergiu em 1999 com "O Sexto Sentido", um divisor de águas na sua carreira (o diretor já havia feito dois filmes menores antes), Shyamalan mergulhou em um processo de fazer apenas filmes pessoais, remando contra a correnteza de obras descartáveis que costuma inundar os cinemas. No processo, é claro, muitos queriam que repetisse o sucesso de seu filme inicial, e tendo o diretor usado diferentes fórmulas, para muitos ele afundou sua carreira em obras inodoras, inóspitas e incolores.
Tá, eu sei, esse primeiro parágrafo tá infame, mas ele dá bem a real: Shyamalan é um cara que desperta sentimentos opostos nas pessoas, justamente por seu primeiro filme "grande" ter sido tão bem-sucedido. Muitos vão ao cinema buscando o suspense agoniante e a já famosa surpresa no final, e se decepcionam. Outros sabem que, mais do que um diretor de filmes de terror, o indiano é um excelente contador de histórias, tratando com criatividade assuntos como o mito dos super-heróis (Corpo Fechado), a fé (Sinais) e a cultura do medo (A Vila). Mas está preso por uma armadilha criada pelo público e crítica: as pessoas QUEREM uma reviravolta no final, mas se ele a coloca, é apenas porque precisa de algo bombástico no filme. Muitos criticaram o final de "A Vila", mas poucos perceberam que ele foi uma consequência natural dos acontecimentos ao longo da projeção, e não o contrário.
Assim, seu novo "A Dama na Água" certamente despertou curiosidade tanto em seus fãs como naqueles que o acham uma farsa. E a crítica caiu em cima, as pessoas na saída do cinema riam (pra se passar por inteligentes, dizendo "Ó, estou rindo porque não gostei - logo, sou capaz de criticar coisas")e eu, depois da projeção, só pensava "Como esse cara consegue ter tantas idéias fantásticas?"
Cleveland Heep é um zelador que, ao investigar quem passa a noite na piscina do condomínio, encontra uma narf, uma criatura de contos-de-fada. Logo descobre que Story (o nome dela) precisa voltar ao seu mundo, mas não sem antes realizar uma missão que pode mudar o nosso próprio mundo - e, aos poucos, os moradores do condomínio vão descobrindo que também são personagens nesse conto.
O grande problema, pra mim, foi esse "aos poucos": enquanto algumas vezes as revelações surgiam de forma sutil, permitindo que o espectador acompanhasse o processo de descobrimento, outras eram simplesmente jogadas na história, como se não houvesse tempo para desenvolvê-las. Ainda assim, trabalha de forma incrível as relações entre os personagens, transformando o condomínio em um pequeno mundo que abriga americanos, orientais, indianos, europeus... Mostra que todos precisam ter sua participação para que a História possa seguir seu curso. Mostra que um conto-de-fadas é pura fantasia, mas acreditar nele é encontrar contrapartes do nosso mundo lá.
Embora seja vendido como filme de suspense, as cenas de tensão são poucas (embora extremamente eficientes). Na sua quarta obra depois do inesquecível "O Sexto Sentido", Shyamalan prova definitivamente que é o melhor diretor da atualidade e mostra que existe sim criatividade no meio dessa onde de refilmagens e adaptações que permeiam a indústria cinematográfica - Hollywood ainda não foi por água abaixo. |