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Nova geração
André - 30 abril 2008 - 21:09
Um cara chega em casa daqui a uns quinze anos, senta no sofá com uma latinha de cerveja na mão (se até lá a cerveja não for abolida pelo politicamente correto) e liga a TV:

- Vamos resumir para o telespectador que chegou agora: ignorando o acordo de paz, o País A resolveu atacar o País B com força total. Como você pode ver nas imagens, a situação está horrível. Tiros, corpos, mortos por todo o lado. E a nossa corajosa equipe está lá no meio, trazendo a você as notícias de última hora, imagens e dados. Somente aqui você tem acesso a tudo sobre o conflito. Com a palavra, agora, o nosso comentarista de política: qual a sua opinião profissional sobre o ataque?

- Primeiramente, uma boa noite a você e a todos os telespectadores. Bem, os Aelitas possuem um ataque pesado, mas a defesa Bêelense tem se mantido há muito tempo. Quero dizer com isso que tudo pode acontecer.

- Agora vemos ali os civis fugindo. Amigo, vou dizer: é um horror. É um caos. Olhem como a confusão deixa todo mundo completamente perdido. Haja coração! Os Aelitas atacam com vontade, já destruíram alguns pontos estratégicos e os Bêelenses correm atrás do prejuízo. A infantaria Aelita se mexe pela esquerda, busca espaço, recua, a coisa ta truncada ali, amigo. A defesa Bêelense também não dá sossego, é quase impossível penetrar ali... Há cem anos que os Aelitas não os vencem em guerras.

- Exatamente, e nesses cem anos foram disputadas duas batalhas.

- Os Aelitas certamente tentando quebrar um tabu hoje, e eles partem pra cima! O primeiro batalhão escapa pelo meio, mas acaba esbarrando na excelente marcação da Tropa Bêelense. Aliás, falam muito desse Primeiro Batalhão, mas quem realmente ta fazendo a diferença é o Segundo Batalhão.

- Os civis tão centralizando demais a fuga, por ali vai ficar difícil. Eles precisam utilizar mais os flancos, que é onde tem espaço de sobra para que o pessoal possa apoiar quem está em dificuldades.

- E o ataque Aelista começa a surtir efeito, vai na garra, na emoção, na força de vontade! O Segundo Batalhão pressiona e começa a levar vantagem, a Tropa Bêelense recua um pouco assustada, estão com medo de perder o bunker na zona norte porque ele é crucial para a vitória. Haaaaja coração! Os soldados do Batalhão infernizam a vida da defesa, puxam pra lá e pra cá, é um caos amigo, um show de horror que ninguém gostaria de ver. Os civis fogem desordenadamente, a violência se espalha como terror! O caos continua e... minha nossa! Olha só como aquele civil foi atingido, amigo, que coisa. Não tem mais bobo nesse mundo não! E só aqui você vê o ataque em ângulos EXCLUSIVOS, que só o equipamento de última geração da nossa emissora consegue captar. Vamos ver o replay e... olha ali, olha ali... não é a bala que atinge o civil, e sim a MÃO DIREITA do soldado. Olha de novo... é a MÃO DIREITA dele que acerta o civil e o derruba.

- Não é não, é a bala mesmo que atinge ele. Corretíssima a interpretação do civil.

- Mas claro que não, é a mão direita. Ele não pode ter sido atingido pela bala porque a física não permite! O soldado até tentou acertar com o tiro de metralhadora, mas errou e, com a MÃO DIREITA, nocauteou o civil.

- Se você diz...

- Não é eu que to dizendo, é o que aconteceu. A câmera não mente. Estamos transmitindo a verdade e apenas a verdade aos nossos telespectadores. É o nosso trabalho enquanto jornalistas e seres humanos. É o nosso dever nos compadecer com a situação e solidarizar com ela.

- Tem mudança.

- Opa, diga aí.

- Parece que tá chegando a Força de Paz da ONU, formada por duas infantarias, três batalhões, tanques de última geração e armas com alto potencial destrutivo. O objetivo deles é povoar o meio para que os civis tenham mais espaço.

- Daqui a pouco, então, a Força de Paz da ONU em campo. Vamos ver como fica a situação. Volto a dizer amigo, o que estamos presenciando aqui ninguém gostaria de ver. Caos, carnificina, falta de respeito com o ser humano enquanto um ser humano. Não há vitória aqui, só a derrota da moral e dos diretos que a humanidade tanto lutou para conquistar. A desumanização das pessoas é impressionante. Até que ponto iremos chegar? Qual é a salvação? E existe alguém que realmente se beneficia com essa guerra?

Nesse momento o cara se levanta do sofá pra pegar outra cerveja: comerciais.
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