Pra começar, posso dizer que acho impossível não parecer esnobe ao dizer, confortavelmente sentado no banco de um carro, "não tenho nada" a qualquer pedinte. Responder dessa forma sempre me soa como se eu dissesse "não, não vou te dar nada porque acho que tu não merece, porque se eu fosse me importar com todo mundo iria à falência", essas coisas. São situações que me deixam realmente constrangido.
Esses tempos mais, em uma sinaleira próxima ao Iguatemi, o pedinte ficou na esquina. Disse com um tom de voz nervoso, quase choroso: "Eu não vou chegar perto. Eu sou de Barra do Ribeiro, trabalho com panfletagem aqui em Porto Alegre e perdi o dinheiro da passagem, por isso estou pedindo aqui na sinaleira". Já eram mais de 6 horas da tarde de um sábado. Me comovi com a história do cara, saquei uma moeda de 1 pila da carteira e contribuí pra passagem do infeliz. Afinal de contas, o relato parecia bastante verídico e o cara parecia realmente angustiado com a idéia de não voltar pra casa naquele mesmo dia.
Ontem à noite, eu e a Renata a caminho da casa, paramos na sinaleira da junção da Cristiano Fischer com a Protásio Alves. Um rapaz bem arrumado pedia dinheiro, achamos estranho. Ele chegou perto do carro. Começou a falar. "Eu não vou chegar perto. Eu sou de Barra do Ribeiro, trabalho com panfletagem aqui em Porto Alegre e...". O sinal abriu, arranquei meio incrédulo.
Sim, era o mesmo cara.
Ou o cara ainda não tinha conseguido juntar o dinheiro da passagem, ou é um baita dum golpista. Agora, a segunda hipótese me parece mais provável. Por essas e outras que eu nunca mais vou dar moedas na sinaleira, por mais verossímil que seja a história ou o sofrimento alheio. Nunca se sabe. |