Quando eu ainda trabalhava, eu passava dez horas dentro da agência. Somando-se a isso o tempo de ida e volta de ônibus, o total ficava em cerca de onze horas e meia/doze horas fora de casa - isso sem contar, claro, os dias que eu ia à academia.
Ainda assim, entre junho e julho de 2006, eu assisti 53 dos 64 jogos da Copa do Mundo (sendo que oito foram jogados simultaneamente, ou seja, na prática perdi apenas três partidas). Como? Eu assistia alguns no meu horário de almoço, outros eu gravava pra ver quando chegasse em casa... evitava olhar qualquer noticiário ou entrar em qualquer site de notícias pra poder desfrutar dos jogos sem saber o resultado. Pra poder torcer.
Não há explicação lógica para tal atitude. Eu poderia até falar aqui sobre a relevância social do futebol - e é idiotice dizer que isso não existe, uma vez que o esporte se tornou um negócio multibilionário, interferindo em diversos aspectos da sociedade -, mas não é isso. Poderia falar que, enquanto publicitário, preciso estar atento às questões em destaque na mídia, mas não é isso. Poderia até dizer que sou fã de esportes em geral, mas não é isso.
A grande verdade é que não escolhemos por quem vamos nos apaixonar. Simplesmente acontece. Da mesma forma, desde pequeno fui fisgado de forma irrecuperável por uma bola de futebol. Por que é simples: em dois tempos de quarenta e cinco minutos, tudo que um time precisa é fazer a pelota atravessar uma linha. E é dessa simplicidade que se originam as obras de arte com passes harmoniosos, jogadas que são uma pintura, gols cinematográficos. É dessa simplicidade que se originam as estratégias romanas, a força de vontade espartana, as decisões em milésimos de segundo que mudarão vidas. É dessa simplicidade que se originam heróis, craques, gênios, lendas.
É dessa simplicidade que vem aquele arrepio na espinha, que sobe até os olhos encherem de lágrimas, libertados por um grito de alívio que almeja alcançar o infinito.
Por isso, toda vez que vou tentar definir o que é o futebol, e o quanto ele significa, eu acabo falhando. Não por falta de capacidade, mas porque, no final das contas, é o futebol que me define.