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Movendo os peões
André - 12 fevereiro 2007 - 12:43
Xeque-Mate (Lucky Number Slevin)
5/5

Direção: Paul McGuigan
Roteiro: Jason Smilovic

Elenco:
Josh Hartnett (Slevin Kelevra)
Bruce Willis (Mr. Goodkat)
Lucy Liu (Lindsey)
Morgan Freeman (Chefe)
Ben Kingsley (Rabino)

Queria ter assistido esse filme quando ele foi lançado, em 2006. Certamente entraria na lista dos melhores.

Slevin Kelevra é um azarado: perdeu o emprego, o apartamento e sua namorada o deixou. Para descansar um pouco desse caos, é convidado por seu bróder Nick a passar uma temporada com ele em Nova Iorque. Mas, ao chegar e encontrar o apartamento vazio, Slevin começa a fazer algumas perguntas: onde está seu amigo? Por que o apartamento está vazio? E, principalmente, por que os chefes do submundo - a quem seu amigo deve dinheiro - e um assasino profissional estão achando que ele é Nick?

Ah, é importante dizer: Slevin sofre de "Atarexia", doença (inventada, pois na verdade faz referência a um termo filosófico) que o impede de se preocupar com as coisas, por maiores que sejam. A explicação é importante porque, embora o filme nunca se proponha a passar em um mundo "real", dessa forma aceitamos naturalmente a forma traquila com a qual o protagonista lida com as ameaças.

Então "Xeque-Mate" é, desde o início, um filme original e criativo, pois busca alternativas diferentes àquelas tão comuns em filmes policiais. É claro, pode-se fazer algumas relações: os nomes que na verdade são apelidos (Chefe, Rabino...) e o humor negro extraído de situações improváveis têm paralelos com os filmes de Guy Ritchie e Tarantino.
No entanto, esta é uma obra de personalidade própria: busca, desde o início, fazer o espectador acreditar naquele universo e naquelas situações (algo que a direção segura, onde até mesmo os movimentos/efeitos mais rebuscados parecem naturais, faz com competência). Desta forma uma história que começa relativamente simples e descompromissada vai ganhando força e surpreendendo, seja pelas reviravoltas ou pela leve mudança de tom no clima (conforme as coisas se complicam, ele torna-se mais denso).

Essa "naturalidade" não seria possível se não houvesse um bom elenco: enquanto Morgan Freeman e Ben Kingsley fazem um trabalho competente como os gângsters, Bruce Willis surge, mais uma vez, como um frio e ameaçador assassino - e reparem que apenas a presença dele em cena já é o suficiente para deixar o espectador em alerta. E, se Lucy Liu contagia como a carismática Lindsey, Josh Hartnett consegue demonstrar suas emoções por ela sem exageros, ao mesmo tempo em que age despreocupadamente com relação aos perigos e ameaças.

Mas o grande astro mesmo aqui é o roteiro, desde os pequenos detalhes da história até os afiados diálogos (quando Slevin flagra sua namorada transando com outro cara e ouve a desculpa "Foi um acidente", responde com naturalidade "Como assim? Tipo, você caiu e ele tropeçou?"). Isso torna a dinâmica entre as personagems engraçada e informativa, oferecendo informações-chave em meio à conversas absurdas que, soando de forma absolutamente natural, trazem uma divertida irreverência que não deixa de tirar sarro dos clichês do gênero (como o Chefe falando "Não preciso dizer a você que, se não conseguir o dinheiro, é um homem morto, certo?", ao passo que Slevin responde "Acho que você acabou de dizer"). E, conforme a inteligente trama vai se desenvolvendo de forma fluida e coerente, descobrimos que há muito mais nestes personagens do que imaginamos no início.

A história toda é como um Kansas City Shuffle, golpe onde o alvo olha para a esquerda quando deveria estar olhando para a direita. É bom sempre olhar para os dois lados, já diziam nossas mães. E, aparentemente, elas estavam certas.
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