A monotonia poderosa de uma tarde de domingo me levou a assistir a um programa sobre o início do universo, no National Geographic. Aparentemente, tudo que existia antes era uma bolinha minúscula, menor do que um átomo, onde pulsava um calor milhões de vezes mais forte que o do sol. Tipo uma versão atômica de Porto Alegre no verão, assim. Pois bem. Logo o Big Bang chegou tocando o terror em tudo e mandando essa bolinha literalmente pro espaço, e o universo começou a se expandir.
A essas alturas, tudo era energia. Eis que os primeiros representantes da matéria acabam sendo criados, mas, para não ficarem solitários, vem sempre uma partícula de antimatéria junto para animar a festa. E, como bom casal, a matéria e a antimatéria se aniquilam infinitamente. Ou seja, a tendência era o universo ficar nesse MMA microscópico para sempre, sem sair nenhum coelho (ou planeta, estrela, pessoa, vida, qualquer coisa feita de matéria) desse mato espacial.
Entretanto, havia um porém: para cada 100 milhões de partículas de antimatéria que davam as caras, 100 milhões e uma partícula de matéria acompanhavam. Essa foi a diferença. Essa uma partícula a mais, que sobreviveu à Guerra dos Milissegundos, que foi se juntando com outras partículas a mais, deu início à tudo. Fez as coisas acontecerem.
Ou seja, todas as pessoas, os planetas, as galáxias, as estrelas, os rios, os oceanos, as nebulosas, a Scarlett Johansson, as montanhas, os vulcões, absolutamente tudo de tudo que existe nasceu de um desequilíbrio, uma imperfeição. Então, a nossa busca constante pelo controle, pela perfeição, é uma jornada que vai contra o próprio processo que nos trouxe aqui. A vida é uma sucessão de eventos caóticos, dos quais a mais inesperada das coisas, para o bem ou para o mal, pode surgir. E a nossa tentativa de evitar, de manipular esses eventos, é uma tentativa de abafar a criação em seu estado mais puro. Afinal, de uma partícula de matéria pode ser originar todo um universo. E de um domingo tedioso pode se originar um novo post no blog. |