Muito antes de começar a ter aulas de História e Geografia na 6ª série. Antes mesmo de ter noções de Estudos Sociais na terceira, eu já comecei a ser educado pelas transmissões de jogos de futebol. O primeiro campeonato de que tenho lembrança foi o Brasileirão de 1988, vencido pelo Bahia. Foi aí que eu descobri que existia o Nordeste.
Até hoje eu brinco que sei que Estoril fica em Portugal, Piacenza e Treviso ficam na Itália e Málaga fica na Espanha por que os narradores me contaram ou porque li no álbum da Copa. Além disso, lembro de acontecimentos remotos com rara riqueza de detalhes simplesmente por que o evento ocorreu no mesmo dia que um jogo importante.
Na faculdade, lembro que futebol era um assunto dos menos populares, até posso dizer discriminado. E nessa fase, as desconfianças de que eu não batia bem da bola, visto os fatos descritos nos parágrafos acima, praticamente se confirmaram. Mas depois de ser docemente apresentado a uma rica literatura que se inspira no esporte bretão, meus anseios se aplacaram. Afinal, se eu não consegui provar minha sanidade, pelo menos me tranqüilizou o fato de estar amplamente acompanhado nessa arquibancada.
Na semana passada, li “Como o Futebol explica o Mundo”, de Franklin Foer. Um cara tão ou mais doente do que eu. Não que ele seja mais fanático – faz parte da patologia afirmar que ninguém seja mais apaixonado por futebol do que a gente - , mas é difícil de explicar como é que ele foi acometido por esse vírus, tendo nascido na terra do beisebol. O livro trata das engrenagens e conseqüentes problemas ocasionados pela globalização culminados na primeira década do corrente século.
Com casos de jogadores, torcedores, times e dirigentes das mais variadas partes do globo, o autor ilustra questões de nacionalismo, religiosidade, mercado, corrupção, mídia, xenofobia, política, tecnologia, choques culturais... tudo o que se discutia na universidade com aqueles colegas avessos ao futebol. Claro que a analise nem sempre é isenta, mas pensando bem, em qual desses temas podemos esperar imparcialidade? Ainda mais de um torcedor fervoroso convicto.