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O GREnal mais quente do ano
Thiago Silverolli - 30 julho 2006 - 23:37
Sim! Eu estava lá! E antes de mais nada quero tranqüilizar a todos (ou decepcionar) dizendo que nada sofri fisicamente. Mas bem que poderia!

O salão de festas é nosso! A gente faz lá o que bem entender! E numa noite fria como a de hoje, até que uma fogueirinha cai bem!

Brincadeiras e provocações a parte,

Reconheço que talvez eu devesse esperar a repercussão dos acontecimentos na mídia antes de publicar este texto, mas o calor da hora (se soou trocadilho foi sem querer) vai me ajudar a contar mais esta história com a emoção o mais crua possível.

Minha irmã, assustada com o que viu na TV, me disse o que a cobertura narrava sobre o incidente. Nessas horas eu prefiro prestar mais atenção nos adjetivos da narrativa, pois o fato em si eu vivenciei. Todos condenando os atos da torcida, que ateou fogo nos Pipimóvel® e partiu de Avalanche® pra cima dos pobres policiais. Deixem-me partir do princípio e vamos ver se a óptica continua a mesma.

Domingo, 30 de julho de 2006, 17h20min. Eu tinha almoçado na casa do meu tio, por isso estava chegando no estádio na direção de quem vem do shopping Praia de Belas. Um mar vermelho, como eles mesmos gostam de chamar, dominava a paisagem por todos os lados. Eu, no meio de todos eles, com a camisa do Grêmio e uma jaqueta preta que não a cobria por completo. Nesta hora eu ainda não sentia medo, pois o povo gaúcho é sim civilizado o bastante para não confundir futebol com guerra. Era só não olhar atravessado pra ninguém que eu certamente não arrumaria problemas. O máximo que ouvi foi um “pra quê vir com essa camisa?” num tom espontaneamente amistoso.

Logo vi o cordão de isolamento dos policiais que separava as torcidas e um deles me orientou para onde eu deveria seguir com meu irmão e minha bela camisa listrada. Pronto! Qualquer resquício de tensão que ainda pudesse sobreviver em nossas mentes se foi.

Fomos mandados para uma área distante da torcida adversária – e da imprensa também – mas o portão destinado ao Grêmio ainda não tinha sido aberto e faltava menos de meia-hora para o jogo começar. Resultado: cerca de cinco mil gremistas aglomerados e ansiosos. A meia dúzia de mais exaltados (e estimulados...) começou a se manifestar e a polícia precisou tomar providências para organizar uma fila antes de liberar nossa entrada. E tomou...

A tática inteligentíssima e realmente eficaz era simples: de um lado a cavalaria, policiais empinando seus cavalos atropelando os torcedores literalmente e, pasmem, desembainhando espadas (isso mesmo, ESPADAS!) para jogar a multidão para o outro lado, que lado? O lado do batalhão de choque que nos aguardavam sádicos com seus cassetetes como rebatedores de basebol. Só que o que eles rebatiam eram pessoas. Entre as quais, mulheres e crianças, que a essa altura já choravam apavoradas e arrependidas de terem saído de casa para... se divertir.

E no meio dessa multidão se empurrando e sendo pisoteada num cenário montado que se assemelhava muito às descrições de antigas batalhas campais lá estava eu, acuado, amedrontado, tentando proteger e tranqüilizar o meu irmão, sem saber sequer ao certo como ME proteger ou ME tranqüilizar. Há sete anos, com a morte do meu pai, senti que meu papel dentro da família cresceu em importância e minhas responsabilidades aumentaram vertiginosamente. Mas confesso que durante todo esse período minha missão nunca foi tão difícil quanto naquele momento de pânico antes de uma simples partida de futebol. Eu não tinha idéia de contra o que eu devia me proteger e nem para onde eu poderia fugir.

Passado esse pesadelo, pudemos entrar no estádio aos empurrões.

Lá dentro, GREnal é GREnal e vice-versa; o jogo pegado, as torcidas interagindo e fazendo uma festa bonita. Com a exceção daquela meia dúzia de mais exaltados, que também conseguiu entrar e trouxe consigo os banheiros ecológicos instalados para a arquibancada, e foram arremessando-os sistematicamente um a um para dentro do campo e queimando-os, como protesto contra os atos desmedidos dos policiais (e pra falar a verdade não foi nada perto do que ja tinha acontecido, pois a rigor nao fizeram mal a ninguem além de sua própria imagem aos olhos de quem teve uma noção parcial dos fatos).

DEIXO BEM CLARO QUE NÃO ESTOU JUSTIFICANDO O OCORRIDO, APENAS MOSTRANDO QUE ELE PODERIA MUITO BEM TER SIDO EVITADO.


Como acabaram-se os banheiros, a meia-dúzia - que depois de duas oportunidades que teve a brigada, não foi retirada do estádio - resolveu provocar os adversários e destruir as grades de contensão.

E a polícia finalmente agiu contra eles. Contra eles e contra os outros 4990 gremistas que, inocentes, foram realmente apenas assistir ao jogo. Sim, porque o espetáculo teria que ser tão plástico quanto foi o incêndio dos baderneiros, precisava abrir um clarão no meio da torcida para mostrar serviço, e eles vieram com bombas de efeito moral e bazucas com balas de borracha, que eram apontadas diretamente contra torcedores a esmo, como numa competição de tiro ao alvo.

A partida recomeçou dentro de campo depois de duas paralisações, mas não para nós, os outros 4990, que assistimos ao fim do jogo espremidos, agachados e apreensivos a cada estampido mais forte, mesmo quando vinha da bateria que rege os cânticos da torcida.

Na saída, uma frase emblemática de uma das crianças que eu vi chorando ao entrar no estádio: “Não vamo por ali, papai. Ta cheio de polícia!”.
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