O ar frio da manhã não conseguia dissipar a tensão, que me envolvia como uma cobra esmagando sua presa. Sentado na cadeira, eu sabia exatamente o que iria acontecer, e não conseguia acreditar que as coisas haviam chegado até aquele ponto. Mesmo com a temperatura baixa, eu suava. Atrás de mim, apenas sons metálicos, como os sinos que badalam à meia-noite para avisar que a escuridão chegou. O silêncio pesava, esmagando minhas tentativas de pensar em boas lembranças e me obrigando a enfrentar o inevitável.
Seu rosto era impassível, desprovido de sentimentos - já havia feito aquilo antes em centenas de outros. Com calma e saboreando o momento, ela largou a bandeja metálica em cima da mesa. Uma bandeja com objetos prateados, afiados. Cortantes. O barulho de aço batendo contra aço ecoou nos meus medos mais profundos, um tilintar agoniante que corta qualquer vestígio de esperança e define a cruel realidade. Difícil imaginar um final feliz agora. Segurando um tubo com um gancho na ponta, ela se virou na minha direção. Meu coração disparava como uma metralhadora. Mas eu não podia me entregar. A luz se acendeu, ofuscante, queimando o rosto - e enquanto o gancho ia chegando cada vez mais perto, ela falou com uma tranquilidade assustadora "pode abrir a boca".