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Can you see them?
André - 19 dezembro 2005 - 23:15

O show continua com a paulada Save You, que injeta ainda mais adrenalina no ginásio. Os riffs rápidos carregam o público, que canta e pula enquanto Vedder grita "Help Yourseeeeeeelf!!!!!" mostrando que mantém a voz ainda potente.


Assim que a música acaba, o vocalista pega sua guitarra e começa a tocar.... Rearview Mirror! A gurizada vai ao delírio, acompanhando a música que fica cada vez mais rápida. "Head at your feet.... fool to your crown". Pelo menos até depois do seguno refrão, quando os instrumentos se separam, e cada um fica improvisando como quer sobre a mesma nota. A música diluída torna-se um pouco psicodélica, e o ginásio escuro só aumenta o clima. Aos poucos a canção vai tomando a forma original. Aos poucos. Mas esse caminho é interrompido, é escancarado quando subitamente a banda toda explode em uma parede de som, com Eddie Vedder gritando "Saw things...saw things" por cima dos instrumentos, ao mesmo tempo que as luzes se acendem com força total atrás do palco. Eletrizante! Eletrizante! Eddie continua com força, até chegar ao "REARVIEW MIRROR!" enquanto o público empolgado aplaude e participa com um entusiasmo inigualável. "Rearview Mirror" é uma música única e, quando tocada quando perfeição, atinge niveis perigosamente altos de adrenalina. A banda se despede e sai do palco, mas todos sabem que eles vão voltar e incentivam aos gritos de "Pearl Jam! Pearl Jam!". Logo eles voltam, e Eddie Vedder cumprimenta os portoalegrenses novamente. "It's a very nice time to be out of the U.S.", diz ele. "Thanks for give us a place to go". Mais algumas palavras de agradecimento ao Mudhoney.
O vocalista pega uma camiseta que jogaram ao palco. "I Got Shit" está escrito nela.

"This song is a request" diz ele, mostrando a camiseta e começando as primeiras notas da música. Os celulares e isqueiros se acendem, mas quando a música engata ninguém fica parado. "I..walked the line" diz o refrão, um daqueles pra agitar toda a galera. Mesmo quem não conhece a canção entra no clima. Mesmo quem não conhece se rende ao talento de uma das maiores bandas do mundo.


Stone pega o violão e toca lentamente um lá menor. E eu não acredito. Crazy Mary! "She lived on a curve in the road..." entra Vedder. O público, entusiasmado, entra junto. Aos poucos a banda toda entra, e a música fica ainda mais linda. Ainda mais linda, se é que é possível. Lenta, cadenciada. Até acabar o refrão, e Vedder e Stone dão conta da segunda parte sozinhos. A gurizada vai cantando mais alto, e mais alto, e cada vez mais alto. A voz de todos chega a me arrepiar, e arrepia o vocalista também que deixa só o público cantar "And Mary rising all above it all". No final, o tecladista Boom Gaspar divide o solo com Micke McCready, um solo longo e psicodélico, que remete aos melhores do Doors. Eddie Vedder passa sua garrafa de vinho para o público. A essas alturas, o que era pra ser um show de rock vira uma celebração à musica, um ambiente quase familiar onde músicos e fãs se reconhecem, percebem uns nos outros o mesmo amor pelas canções, os mesmos receios, o mesmo olhar que indica que aquela noite era realmente especial.


O vocalista, falando em portugues, diz que a primeira vez que esteve no país foi em 96 com os Ramones. Fala que perdeu um amigo que amava, Johnny Ramone. E, num momento inesperado e emocionante, dedica a próxima música a ele e chama ninguém menos que Marky Ramone pra tocar bateria. Ninguém menos que Marky Ramone pra tocar bateria. "I've never tried this", ele confessa. A próxima música é óbvia: I Believe In Miracles. Antes dela começar, o público já canta "Hey Ho, Let's Go". Fora do palco, o que se vê é uma euforia: fãs chorando, agradecendo, cantando a música de olhos fechados. No palco, o que se vê é uma banda emocionada, tocando de coração e dando tudo o que pode, fazendo o melhor que consegue fazer, que não vai muito além do espetacular. Eddie Vedder chega a lacrimejar ao sair do microfone e ouvir o público cantar "I...believe...in miracles!". Inesquecível.


Stone assume as rédeas agora. Faz o que todos no ginásio esperavam pra ouvir. Toca a nota que muita gente esperou ansiosa por quinze anos. Stone pega a guitarra e começa Alive! O público, eufórico, pula, se bate, canta, chora... o público, eufórico, torna-se parte da música, parte da banda. Canta o refrão por cima da voz de Vedder. As lágrimas saem incessantemente do meu rosto, enquanto minha voz já rasgada e minha garganta rouca fazem o possível para acompanhar. Em Alive, a união entre público/banda/música beira o impossível. Ao chegar no terceiro refrão, o clímax, o pessoal continua com a mesma força, com a mesma vontade. Tanta energia só pode sair de um coração apaixonado, um sentimento inigualável de felicidade, de ver um sonho sendo realizado. Mike começa a solar, e alguém joga uma bandeira do Brasil no palco. Eddie Vedder enrola o guitarrista na bandeira, levando o público a uma catarse coletiva. Em uma voz, um coro de "Hey" começa a cada nota tocada por Jeff, Matt e Stone. Os braços balançam no ar, um grito de liberação, de euforia. E o público não descansa. A banda olha, incrédula. O ginásio treme, a cidade treme, o mundo inteiro treme. No meio daquela cacofonia de vozes, daquele mar de braços, percebo a filha de Vedder no colo da mãe levantando os braços e sorrindo, exatamente como o público estava fazendo. Em Alive, não houve meio-termo: mas não há também como explicar o que aconteceu. Em Alive, o impossível foi realizado. Em Alive, um ginásio inteiro, milhares de pessoas, tornaram-se uma só, uma só voz. E um só coração.


A banda se despede e vai embora de novo, mas agora ninguém quer parar. Começa um coro de "Happy Birthday" para Matt Cameron, aniversariante da noite. Eles logo voltam, e Vedder agradece em português: "Obrigado por nos dar uma linda noite para lembrar." Ele começa: "one tow three four... I seem to recognize". "Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town" começa, e as primeiras lágrimas já são vistas. O público canta com vontade. "Small Town" é uma música para cantar com vontade. "Hearts and thoughts they fade... fade away". As notas penetram em cada um, enchem todos com um otimismo inabalável. As vozes já desgastadas cantam ainda mais alto, tocadas por uma melodia absurdamente linda. As luzes estão meio apagadas, e o mundo é iluminado por celulares e isqueiros. Mas elas se acendem quanto todos gritam "Hello". Todos cantam com os braços levantados, com os olhos marejados, com os corações na boca. Cantam mais alto que Vedder. Cantam sozinhos. O ginásio inteiro canta sozinho. É impossível, é impossível não chorar. É impossível, é impossível não chorar. É impossível não chorar!! É impossível ouvir e permanecer impassível. "Small Town" enche o Gigantinho de vida, e quando acaba deixa aquela sensação de "O que foi que acabou de acontecer?" em cada um dos que estavam presentes.


Vedder pega a guitarra de novo, e começa a dedilhar "Corduroy". Putaquepariu! Putaquepariu! "Hey, hey, hey, hey" grita o público durante a introdução. Entra a banda toda e a gurizada sai pulando. "The waiting drove me mad" tem um significado totalmente novo. Corduroy é animada, e as pessoas começam a se abraçar, pulando e gritando ao som da música. O clima agora é de energia pura. A banda, com a competência habitual, cativa, joga a alma no palco, faz com que todos participem. O Pearl Jam sobe no palco e joga com a mesma garra que nós, gaúchos, estamos acostumados a ver e a ter. Mais uma surpresa: as primeiras notas de "Blood" são tocadas. Depois do espanto inicial, o pessoal já volta a entrar no clima e gritar "IT'S... MY...BLOOOOOOOOD!". Uma música paulada, um petardo no final do show pra mostrar pra todos "Ainda estamos aqui, então nem pensem em descansar". Eddie Vedder parabeniza o aniversariante, Matt Cameron, e chama um intérprete para pedir a todos que cantam "Parabéns a você" - isso mesmo, em português - para o amigo. O coro é geral, e o baterista fica visivelmente emocionado. Mas tudo bem, é compreensível. Ele agradece, enquanto um bolo aparece no palco. Sem pensar duas vezes, a banda arranca pedaços com a mão e começam a jogar uns nos outros. Depois, na platéia. E que show é esse? Onde mais se encontra essa descontração, esse conexão entre fãs e banda? Os caras do Pearl Jam estavam mais do que à vontade no palco do Gigantinho: estavam em casa.


Começa mais uma música que eu esperava muito ouvir. Fãs de The Who, não deixaram de tocar Baba O'Riley, em uma versão completamente ESPETACULAR! "Out here in the fields". Eu olho pro lado, e tá todo mundo cantando. Tá todo mundo curtindo. Tá todo mundo tendo o melhor momento da vida deles, um daqueles que vão conosco pra sempre. Na parada, o vocalista larga o microfone. O verso "Don't cry... don't raise your eyes... it's only teenage wasteland" é cantado pelo público. A música volta, e carrega o pessoal para mais uma daquelas sensações inesquecíveis, inesplicáveis. Gritos de "The Who, The Who" surgem. Ali em cima, os caras sorriem, pulam também, fazem tanta festa quando seus fãs, que não acreditam no que estão ouvdindo. Eu ouço e não acredito. Baba O'Riley me leva pra outro mundo, outro lugar, outra vida.


O Eddie agradece com um "see you next time", e chega o inevitável: ecos de Jimi Hendrix ressoam pelo ginásio quando Mike toca as primeiras notas de Yellow Ledbetter. Uma das melhores músicas, uma das mais emocionantes. E justo aquela que todos sabemos que é a última. Não consigo conter lágrimas. Meu coração sai pela boca junto com a minha voz, junto com toda a minha força, todo o meu pensamento. Naquela hora, não existe mais nada no mundo, só a música, e a celebração à ela. O cara canta alto, canta com vontade. Os braços se erguem, e um mar de mãos dá adeus a eles. Cada vez a música toca mais fundo, cada vez ela bate com mais vontade, nos deixando aquela sensação magnífica. Um arrepio sobe pela espinha e se espalha por todo o corpo. As luzes já estão todas acesas, mas eu mal enxergo as coisas por entre as lágrimas. Eu nem consigo pensar, nem nada. Só sentir. E cantar, com toda a força que me resta, esgotand o todo o ar dos meus pulmões em versos emocionantes. "And I know, and I know... I don't wanna stay". Mas eu quero ficar, quero que todo mundo fique. A banda para, e só o Mike continua. Não pára, não pára, não pára. O som da guitarra vai baixando. O público aplaude. O som da guitarra vai baixando. Eu aplaudo. Choro compulsivamente, como uma criança. Acabei de ter as melhores sensações da minha vida. Acabei de fazer parte de algo único, especial, que não vai se repetir. Não pára, velho, não para. Continua tocando. A última nota ecoa, e o público agradece. Eu ainda grito "Não pára, não pára!". Boom veste a imortal camiseta tricolor, o que acarreta muitos aplausos e algumas vaias. Os caras tocam as últimas palhetas pro palco, e pegam alguns objetos que são jogados pra eles. O clima foi todo assim: cinco caras normais em cima do palco, fazendo o possível para compensar os quinze anos de espera que aquelas treze mil pessoas tiveram. E conseguiram. O que o Pearl Jam fez no Gigantinho foi além do inesquecível, além do indescritível. Só estando lá pra saber. Em cima do palco, aqueles caras fazem mais do que música, mais do que rock, mais do que um show. Em cima do palco, eles fazem mágica.

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