Na antologia do Pasquim (O melhor do Pasquim, Desiderata, 2006), encontrei uma baita entrevista com o Madame Satã, personagem mítico do submundo carioca - virou até filme.
Vou reproduzir um pedaço da entrevista aqui embaixo, pra vocês terem uma idéia de quem era a figura:
Millôr Você sabe que nós fazemos um jornal que é marginal. De modo que o fato de você ter vida um pouco à margem da sociedade faz com que nós tenhamos grande emoção em falar com você. Agora você ficou famoso na mitologia carioca, na lenda do Rio, porque você foi um homem que dominou a vida da Lapa, pelo menos esta vida de uma certa margem da sociedade do Rio, e você era o homossexual mais macho que já houve na história do Rio. Satã Isso é o que diz a história, né? Sérgio Mas você é homossexual? Satã Sempre fui, sou e serei. Millôr De onde vema sua fama de extraordinária masculinidade? Eu sei que foi através de inúmeras brigas. Conte alguma coisa. Satã Eu comecei em 1928. Deram um tiro em um guarda-civil na esquina da Rua do Lavradio com Avenida Mem de Sá e mataram, né?! Eu estava dentro do botequinzinho e disseram que fui eu. Então fui preso. Eu tinha 28 anos. Aí, eu fui para o Depósito de Presos e daí para Penitenciária e fui condenado a vinte e seis anos. Na penitenciária, não. Na Casa de Correção. Millôr Segundo você, injustamente. Satã Injustamente. Sérgio Mas você não deu o tiro no guarda? Satã Não, o revólver é que disparou na minha mão. Casualmente. Sérgio Foi a bala que matou? Satã Não, a bala fez o buraco. Quem matou foi Deus.
Depois de ler a entrevista, fiquei pensando como seria encontrar essa entrevista nas páginas amarelas da Veja. Inclusive com aquele box em destaque "Não, a bala fez o buraco. Quem matou foi Deus." e tudo o mais.